segunda-feira, 22 de abril de 2013

O Dia da Terra - 22/04.


Dia Internacional da Mãe Terra - é uma data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2009 para marcar a responsabilidade coletiva para promover a harmonia com a natureza e a Terra e alcançar um balanço entre economia, sociedade e ambiente.
"O Dia Internacional da Mãe Terra é uma chance de reafirmar nossa responsabilidade coletiva para promover a harmonia com a natureza em um tempo em que nosso planeta está sob ameaça da mudança climática, exploração insustentável dos recursos naturais e outros problemas causados pelo homem. Quando nós ameaçamos nosso planeta, minamos nossa própria casa - e nossa sobrevivência no futuro", diz mensagem do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Contudo, a história dessa comemoração é bem mais antiga. O primeiro Dia Nacional da Terra ocorreu em meio ao movimento hippie americano, em 1970. Se por um lado a música e os jovens eram engajados, de outro os americanos viviam com seus carros com motor V8 e a indústria despejando produtos poluidores com pouco medo de represálias legais.
A ideia de uma data para marcar a luta pelo ambiente veio do senador Gaylord Nelson, após este ver a destruição causada por um grande vazamento de óleo na Califórnia, em 1969. Ele recebeu o apoio do congressista republicano conservador Pete McCloskey e recrutou o estudante de Harvard Denis Hayes como coordenador da campanha.
No dia 22 de abril, 20 milhões de pessoas nos Estados Unidos saíram às ruas para protestar em favor de um planeta mais saudável e sustentável. Milhares de escolas e universidades organizaram manifestações contra a deterioração do ambiente e engrossaram os grupos ambientalistas. Foi um raro momento que juntou até mesmo democratas e republicanos.
O resultado prático foi a criação da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e dos atos do Ar Limpo, Água Limpa e das Espécies Ameaçadas. "Foi uma aposta", lembra o senador, "mas funcionou."

domingo, 21 de abril de 2013

Uma geopolítica da dependência hídrica.


A questão da escassez de água é um dos temas ambientais globais do século XXI. Assim como acontece com a população, os recursos hídricos não estão distribuídos equitativamente pela superfície do planeta.  Há regiões onde a água é naturalmente escassa, como as áreas áridas e semi-áridas, e mesmo em áreas onde o chamado “ouro azul” é abundante, o aumento do consumo, bem superior ao incremento demográfico, o mau uso e o desperdício já indicam futuros cenários de escassez.
O Índice de Dependência de Água (IDA) permite análises geográficas e geopolíticas interessantes. O IDA mensura a proporção de água renovável, fundamentalmente de origem fluvial, oriunda de fora do território de determinado país. No fundo, oferece um número para a dependência de recursos hídricos controlados por países vizinhos.
Logo de início, obviamente, o índice revela que os países insulares – como Japão, Filipinas, Sri Lanka, Madagascar ou Cuba – exibem dependência zero, pois seus cursos fluviais nascem, fluem e deságuam dentro dos próprios territórios nacionais. Mas tais países são exceções. Na imensa maioria dos casos, a dependência de água oscila em função da combinação de variáveis   como o contorno de fronteiras do país, a disposição das unidades do relevo e o desenho das redes hidrográficas. Os casos mais interessantes são os de países de grande extensão territorial ou de países drenados por rios cujas bacias abrangem vários espaços nacionais [veja o Mapa 1].














O IDA do Brasil desmente a apreciação do senso comum, segundo a qual não temos maiores dificuldades hídricas. Nosso IDA é de 34%, o que quer dizer que cerca de um terço das águas fluviais do país têm origem fora do território nacional. Se as bacias hidrográficas do São Francisco e do Tocantins-Araguaia são integralmente brasileiras, diversos rios formadores do Amazonas têm seus altos vales na Cordilheira dos Andes. Isso significa que há forte dependência hídrica na área da Amazônia, apesar do controle brasileiro sobre quase 70% da área da bacia [veja o Gráfico].

Na bacia Platina, as coisas se invertem. Como as nascentes e parte considerável do curso dos principais rios formadores da bacia estão em território brasileiro, a dependência hidrográfica de nossos vizinhos platinos é superior ao do Brasil: Argentina (66%), Paraguai (72%), Uruguai (58%) e Bolívia (51%).
De modo geral, os países de grande extensão territorial apresentam dependência hidrográfica inferior à brasileira. A Rússia possui IDA de apenas 4%, já que a maioria de seus grandes cursos fluviais, como o Obi, o Lena, o Ienissei e o Volga têm suas bacias hidrográficas quase totalmente inscritas no espaço nacional russo. A mesma explicação vale para o Canadá, com IDA de 2%, um reflexo da circunstância de que seus grandes rios – como o Mackenzie, o Iukon e o São Lourenço, drenam fundamentalmente o próprio território canadense. O IDA de 8% dos Estados Unidos explica-se, em grande parte, pelos fatos de que de seus maiores rios, o Colúmbia, tem nascentes no Canadá e porque o país compartilha com o México a bacia do Rio Grande, curso fluvial  que serve parcialmente como fronteira entre os dois países.
A China é um caso emblemático. Seu IDA baixíssimo (1%) deriva da configuração territorial do país e da direção oeste-leste de seus principais rios: o Hoang Ho, o Yang Tse-kiang e o Sikiang são exclusivamente chineses. Ademais, no planalto do Tibete chinês estão as nascentes e os altos vales de rios transnacionais. O Bramaputra nasce na China mas atravessa a Índia e Bangladesh. O Irriwady, o Saluem e o Mekong fluem para países do Sudeste Asiático. As montanhas e altos planaltos do Tibete chinês funcionam como uma espécie de “caixa d’água” da Ásia Oriental.
Alguns países apresentam índice de dependência hídrica muito elevado, o que tem relevantes consequências geopolíticas. Um exemplo notório é o Egito, com IDA de 97%. Heródoto estava coberto de razão quando disse que “o Egito é uma dádiva do Nilo”, referindo-se a um país cujo território estende-se totalmente por áreas desérticas. O Egito é o último dos países servido pelas águas do Nilo, cuja bacia hidrográfica se estende por cerca de uma dezena de espaços nacionais. No extremo oposto, a Etiópia, um dos “vizinhos hidrográficos” do Egito, exibe o surpreendente IDA de zero, igual ao de países insulares. A explicação: os altos planaltos etíopes são dispersores  de águas. Neles, aliás, estão as nascentes do Nilo Azul e do Atbara, dois dos maiores afluentes do chamado Nilo Branco [veja o Mapa 2].
Na Europa centro-oriental, os índices de dependência variam bastante, mas chama a atenção o caso da Hungria, com IDA de 94%. O, cercado pelas cadeias montanhosas dos Alpes, dos Cárpatos, dos Alpes Dináricos e dos Bálcãs, está integralmente situado na planície Húngara e é drenado quase apenas pelo rio Danúbio. A bacia danubiana se espraia por territórios de uma dezena de países, muitos dos quais a montante da Hungria. A Alemanha, onde estão as nascentes do Danúbio, tem índice de 31%, basicamente porque também é drenada pelas águas do Reno, cujas nascentes estão na Suíça. Já a Holanda, situada no baixo vale do Reno, exibe IDA de 88%.

Há combinações altamente desfavoráveis. Países com IDA elevado, situados em regiões de escassez de água e cortados por rios que atravessam vários territórios nacionais são, como regra, sujeitos a tensões geopolíticas importantes. Dois exemplos clássicos são o Iraque (IDA de 53%) e a Síria (IDA de 80%). Ambos dependem dos rios Tigre e Eufrates, cujas nascentes estão na Turquia (IDA de 1%).

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Cresce respaldo internacional a Maduro



O governo francês reconheceu nesta quarta-feira (17) Nicolás Maduro como presidente eleito da Venezuela. O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores francês, Philippe Lalliot, afirmou que seu governo leva em conta a decisão do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano, “autoridade competente nessa matéria”. 

Lalliot também afirmou que a França pede “o diálogo e o respeito à ordem institucional”, em referência aos distúrbios vividos pela Venezuela após a oposição exigir a recontagem dos votos. Maduro foi proclamado presidente após ganhar o pleito com 1,7% de votos a mais do que seu principal opositor, Henrique Capriles. 

A França é o terceiro país da União Europeia a manifestar tal reconhecimento. Portugal e Espanha também o fizeram. Ao contrário das dúvidas lançadas sobre a eleição pelo chanceler espanhol, José Manuel García-Margolló, há dois dias, o governo espanhol disse em comunicado terça-feira (17) que “respeita a proclamação por parte do CNE de Nicolás Maduro Moros”. 

Situação semelhante aconteceu com a Organização dos Estados Americanos (OEA). Há dois dias o seu secretário-geral, José Miguel Inzulza, lançou as mesmas dúvidas. Mas em reunião extraordinária da entidade nessa quarta-feira (17), Inzulza disse “desejar ao presidente eleito o maior êxito no cumprimento de suas funções” e se preocupar “com os feitos violentos ocorridos na Venezuela”. A OEA, entretanto, ainda não emitiu comunicado oficial. 

Na América Latina e Caribe, o reconhecimento de Maduro também já foi pelo Brasil, Argentina, Uruguai, Equador, Bolívia, Colômbia, Chile, Haiti, Nicarágua, Cuba, El Salvador, Guatemala, México, Peru, República Dominicana e Trinidad e Tobago. Também congratularam o novo presidente China, Rússia, Irã, Síria, Índia e África do Sul. 

EUA 
Já o governo dos Estados Unidos segue fomentado a dúvida sobre a legitimidade da eleição de Maduro. O secretário de Estado, John Kerry, disse ao Comitê de Assuntos Estrangeiros da Câmara de Representantes que o reconhecimento ainda "precisa passar por uma avaliação". "Achamos que deve haver uma recontagem", afirmou. 

Na Venezuela, o chefe de campanha de Maduro, Jorge Rodriguez, rechaçou as declarações de Kerry e lembrou que as urnas eletrônicas usadas em seu país são da mesma empresa, Smartmatic, que fornece serviço às eleições dos Estados Unidos. 

“A diferença é que aqui nós fazemos auditoria de 54% das urnas, lá eles fazem zero de auditoria. Exigimos a recontagem das eleições dos EUA como está pedindo o senhor Kerry para Venezuela. Comece por seu próprio pátio, senhor secretário”, disse Rodriguez. Carta Maior

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A vitória apertada e o trunfo de Maduro.


Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador

A vitória do chavismo foi apertada. Mas incontestável: Nicolás Maduro teve 50,66%, contra 49,07% de Capriles (isso faltando menos de 1% para totalizar). Diferença de mais de 200 mil votos.  A Venezuela votou no candidato de Chavez. Na Democracia é assim: 50% mais um significam vitória. E ponto.
  
Ano passado, nos EUA, Barack Obama ganhou a reeleição por dois pontos percentuais no voto popular. Foi uma eleição radicalizada. Do outro lado, havia eleitores republicanos que consideravam Obama uma espécie de “demônio socialista”, por conta do projeto de assistência pública de saúde. Os EUA viraram um país “dividido” e “ingovernável”? Não. Obama governa. E Mitt Romney sumiu, no fundo das xícaras do Tea Party. 
A diferença é que nos EUA não há embaixada americana para fomentar golpe e instabilidade…
Isso quer dizer que a vida de Maduro será fácil? Não. A direita venezuelana mostrou força. A tendência dos chavistas, de tratar todo adversário como “fascista” e “oligarca”, não cola. Metade do país é fascista? Maduro terá que moderar o discurso…
Chavez tirou o Estado (e o petróleo) das mãos da oligarquia, criou programas sociais, deu dignidade para os pobres. Isso tudo é fato. Vi de perto, em quatro viagens à Venezuela nos últimos cinco anos. Mas há problemas sérios de gestão. E isso ficou claro desde a primeira vez que visitei Caracas, em 2007.
Desde aquela época, escrevi: a oposição, com 45% dos votos (era o que conseguia, na época), tem força para fazer a disputa democrática, em vez de apelar para o golpismo.
E aí vamos ao segundo ponto. A derrota por margem estreita tira o argumento daqueles que – em Caracas, em Washington ou no Jardim Botânico carioca – afirmam: a Venezuela chavista é uma ditadura. Bobagem. A oposição tem força midiática, presença nas TVs e jornais, liberdade de organização. E há um esquema limpo para contagem de votos.
O resultado, por margem estreita, é um chamado para a moderação. De lado a lado. A vitória apertada porde ser um trunfo de Maduro, na legitimação de seu governo. Só que os chavistas precisam agora dialogar com o centro, com aqueles que até apóiam as políticas sociais do governo – mas estão insatisfeitos com a gestão do dia-a-dia. Em Caracas, por exemplo, há problemas sérios nas áreas de segurança, coleta de lixo, transporte…
Capriles deveria apostar no institucional, cobrando que o governo resolva os problemas concretos da população. Os tempos de subir no muro da Embaixada cubana e de fomentar golpes acabaram. Será que Capriles terá grandeza para assumir o novo papel? O problema é que parte da oposição quer golpe e confronto. E o outro problema são os gringos, acostumados com o jogo sujo. Nos últimos dias, surgiram indícios de que a CIA pode ter infiltrado mercenários armados na Venezuela.
Maduro, por seu lado, terá que enfrentar uma burguesia e uma classe média furibundas (é esse o núcleo duro da oposição, com 30% a 40% dos votos) e, ao mesmo tempo, dialogar com aqueles 10% a 15% que votaram em Capriles mas não são “oligarcas” antipovo.
Não basta mais invocar a figura de Chavez apenas. O presidente morto levou Maduro até o Palácio. Agora Maduro é quem precisa escrever sua história.
Não podemos descartar que setores da oposição partam para campanhas abertas de desestabilização nos próximos dias. Mas será difícil justificar atos de violência quando – pelo voto – a oposição foi capaz de “quase” ganhar.
Contraditoriamente, portanto, a aparente fragilidade de Maduro (“ganhou por apenas 2 pontos”) é também sua força estabilizadora. A Venezuela é uma democracia. E deve ser respeitada como tal.
O Brasil terá um papel importante, rechaçando qualquer tentativa de ataque “por fora” da Democracia.
Fiquemos atentos. E não esqueçamos: em Caracas, há embaixada dos Estados Unidos. Fonte de golpes e instabilidade na história da América Latina

sábado, 13 de abril de 2013

Coreia do Norte: ‘paz impossível, guerra improvável’.


Apesar de fontes de inteligência dos EUA acreditarem que a Coreia do Norte não tenha a capacidade militar que faz questão de alardear, após lançamento de satélite em dezembro de 2012, o Conselho de Segurança da ONU, reafirmando as exigências das resoluções anteriores, aprovou nova resolução com o objetivo de afetar a capacidade de Pyongyang para adquirir componentes para seus programas bélicos. No entanto, apenas três semanas após a decisão da ONU, a Coreia do Norte realizou seu terceiro teste nuclear, ficando muito próxima de desenvolver uma ogiva nuclear pequena, mas suficiente para armar qualquer um dos tipos de mísseis que possui.
A partir daí, assistimos a uma progressiva escalada de tensões com declarações contundentes e surpreendentes por parte do presidente Kim Jong Um, chegando mesmo a dizer que poderia realizar um ataque nuclear contra os EUA. Além de aumentar a pressão sobre a Coreia do Norte, na ONU, os EUA intensificaram seus exercícios militares com a Coreia do Sul, enviando bombardeiros B-2 com capacidade para ataque nuclear. Em discurso proferido no Pentágono, o secretario de Defesa, Leon Panetta, disse que os EUA devem estar em permanente estado de alerta, pois são continuamente ameaçados por ‘Rogue States’ (Estados párias) como o Irã e a Coreia do Norte.
Quão real é a possibilidade de um ataque nuclear? É possível dizer que o Irã ou a Coreia do Norte são mais propensos a usar armas nucleares que os outros poderes nucleares? É possível construir um argumento convincente capaz de explicar por que Irã e Coreia do Norte são “racionais”, em termos da busca de seus interesses nacionais, e “irracionais” quando se trata do uso de armas nucleares?
Creio que o conceito de Rogue State é chave para compreendermos melhor a crise atual, bem como as estratégias norte-americanas para lidar com o tema da proliferação nuclear após o final da Guerra Fria. No início dos anos 90 o Pentágono fazia a avaliação de que a doutrina da dissuasão que funcionou tão bem contra as ameaças do século 20, já não seria adequada em relação aos “Estados Párias”, que são atores que não têm atitudes previsíveis, ou lógicas, como os antigos líderes soviéticos ou chineses. A dissuasão funcionou no passado porque os EUA compreendiam muito bem aqueles que queriam dissuadir, mas a dificuldade de compreensão mútua entre os EUA e a Coreia do Norte, Iraque ou Irã tornava os tradicionais mecanismos da contenção e da dissuasão pouco efetivos para impedir um atacar. O documento da Doutrina de Segurança Nacional dos EUA (2002), elaborado sob o impacto dos atentados do dia 11 de Setembro, veio apenas reafirmar a percepção das ameaças dos Rogue States, levando-a às últimas consequências e justificando a necessidade de novas respostas que tivessem como fundamento principal a seguinte concepção: não esperar “que as ameaças se concretizem” e agir antecipadamente (‘preemptive attack’). Nas palavras do ex-vice-presidente dos EUA, Cheney, trata-se de um inimigo bem equipado, com antecedentes de agressividade e de desprezo por qualquer população ou território. Enfim, um inimigo que "não poderia ser dissuadido, contido ou apaziguado”.
Mas não poderíamos pensar na hipótese de que a estratégia de dissuasão funcionou tanto para Irã, como para Iraque de Saddam Hussein, quanto para a Coreia do Norte, tendo falhado apenas nos momentos em que os EUA não a aplicaram corretamente, como em 1950 (guerra da Coreia), e 1990 (Guerra do Golfo)? Os critérios de “racionalidade” aplicados a Estados como a Coreia do Norte e o Irã não são muito mais rigorosos - e deturpados - do que aqueles que são aplicados à maioria do outros Estados, como Israel, India e Paquistão, por exemplo? Pensadores do ‘mainstream’ das relações internacionais nos EUA – mas, atualmente muito criticados nesse tema - Kenneth Waltz e John Mearsheimer, já escreveram artigos e livros argumentando que a dissuasão nuclear em nível global (EUA, Rússia, China, Inglaterra e França) e regional (Índia e Paquistão, sobretudo) impediu, com sucesso, a ocorrência de conflitos armados (com armas convencionais ou nucleares). Chegaram até a sugerir que a melhor maneira de manter um equilíbrio de poder estável e impedir qualquer estado de usar armas nucleares é promover a proliferação, em vez de tentar limitá-la. Os professores apontam para o fato que desde 1945 apareceram várias potências nucleares com regimes políticos diversos, mas nenhum deles chegou a usar armas nucleares. Claro, com exceção da democracia norte-americana!
É crível supor que Kim Jong-Un e os seus conselheiros militares sejam loucos? Que eles não têm conhecimento de que a guerra contra os EUA significaria certamente a destruição do seu próprio país? Ou eles sabem exatamente do que se trata e são “Estadistas Suicidas” que querem destruir seus próprios Estados?
O ex-ministro das relações exteriores da Coreia do Sul, Yoon Young-kwan, (2003-2004) se lembra de ter tido imensas dificuldades “para convencer os legisladores da administração Bush a negociarem com a Coreia do Norte, em vez de meramente aplicar pressão e esperarem que o Norte capitulasse”. De fato, aos olhos dos líderes políticos do Ocidente (incluindo os Japoneses), argumenta o ex-ministro, a Coreia do Norte sempre foi vista como um país pequeno e marginal, cujos problemas econômicos a situavam no limite da desintegração. Os líderes das grandes potências preferiram não se incomodar com a Coreia do Norte e por isso reagiam de modo ‘ad hoc’ sempre que esta criava um problema de segurança. Isso mudou apenas a partir do momento em que se constatou o aumento da sua capacidade balística. Em abril de 1992, quando a Coreia do Norte enfrentava sérios problemas econômicos e sociais, o presidente Kim expressou claramente um desejo de estabelecer relações diplomáticas com os EUA a Coreia do Sul, os quais se recusaram, pois esperavam simplesmente o país se desintegrasse (Realism on North Korea, project-syndicate Apr. 1, 2013)
O fato é que desde a guerra do golfo em 1990, com o início daquilo que alguns chegaram de denominar de Mundo Unipolar, os EUA cultivam a crença de que quando atacam ou ameaçam atacar um inimigo, todo o sistema de Estados compreenderia os custos de se opor aos seus objetivos. Como consequência, temendo ser o próximo alvo, esses atores se dobrariam a vontade dos norte-americanos (‘bandwagoning’). Referindo-se à decisão da Líbia de abandonar seus programas de armas de destruição em massa e de admitir as inspeções internacionais em 2004, o então secretario de Defesa dos EUA, Rumsfeld, observava que “estas novidades (guerras do Afeganistão e Iraque) demonstram que o que temos fazendo é estrategicamente sólido, além de moralmente correto” .
Essa é única possibilidade de ação racional (‘bandwagoning’) admitida pelos EUA para a conversão dos Rogue States. Não poderíamos formular outras hipóteses para a atitude da Coreia do Norte, como mais uma tentativa de angariar apoio interno por meio da exacerbação da retorica do inimigo externo? Ou ainda, a tática de dar a impressão de que é capaz de fazer qualquer coisa para alcançar seus objetivos, incluindo até mesmo o uso de armas nucleares, na esperança de ganhar concessões na mesa de negociação? Membros do governo norte-americano reclamam que a Coreia do Norte age constantemente de forma ambígua ou contraditória, falando em pacificação, ao mesmo tempo em que eleva o tom belicoso em suas declarações. Ora, sem entrar no mérito da questão, emitir mensagens ambíguas não é próprio daquilo que denominamos de dissuasão? Os dirigentes da Coreia do Norte não estariam apostando no fato de que é possível atingir o status alcançado por Israel, Índia e Paquistão na questão nuclear?
Não seria, isso sim, uma atitude típica de Rogue State excluir todas as hipóteses possíveis que mencionamos acima e adotar apenas aquela que parece ser a menos provável: a de que Kim Jong realmente quer provocar uma guerra nuclear?
Creio que a célebre frase do pensador francês Raymond Aron, que definiu como ninguém a situação dos poderes nucleares durante a Guerra Fria, continua atual: “paz impossível, guerra improvável”. (Carta Maior)

sábado, 6 de abril de 2013

A mídia na ditadura


Falcão e o Dr Roberto. Ao fundo, João Havelange
Falta um tema na variada agenda da Comissão Nacional da Verdade. Criada com a finalidade de apurar as violações dos direitos humanos ela não incluiu na pauta de trabalho a análise do papel da imprensa, como é feito com a Igreja, por exemplo, durante a ditadura, tramada e sustentada por civis e militares.
A imprensa foi arauto da trama golpista contra o presidente João Goulart. Sempre conservadores, os “barões da mídia” brasileira agem sempre na fronteira do reacionarismo. Apoiar golpes, por isso, não chega ser exatamente novidade. Alardeiam o principio do liberalismo sem, no entanto, comprometer-se com a democracia. Assim, promovem feitiços, como o de 1964, e tornam a própria imprensa vítima da feitiçaria.
Patrões e empregados são testemunhas importantes de uma história que precisa ser passada a limpo. É necessário ir além do que já se sabe. Isso só ocorrerá com o depoimento daqueles que viveram os episódios ou estiverem próximos deles.
A ditadura “exerceu o terror de Estado e provocou medo na sociedade civil. Não há indícios, porém, de que o medo fosse a razão do consentimento” que a imprensa deu aos generais, como anota a cientista política Anne-Marie Smith, no livro “Um acordo forçado”.
Ela põe o dedo na ferida ainda aberta – “E se outros jornais tivessem protestado quando o general Abreu proibiu qualquer publicidade do governo no Jornal do Brasil em 1978?” – e se aproxima da resposta: “Os obstáculos à solidariedade não foram criados, nem reforçados, nem explorados pelo regime. A falta de solidariedade foi uma desvantagem gerada pela própria imprensa”.
Império da mídia brasileira, o apoio do sistema O Globo à ditadura nunca foi negado, embora hoje seja disfarçado. Uma das razões para esse comportamento passado, que se encaixa na reflexão de Smith, encontra explicação no livro “Dossiê Geisel”, de Celso Castro e Maria Celina D’Araujo.
No governo Geisel, o ministro das Comunicações Euclides Quandt vetou novas concessões ao nascente sistema Globo por receio de que Roberto Marinho chegasse ao monopólio da opinião pública. Ele, então, foi ao ministro da Justiça, Armando Falcão e falou “do constante apoio” que deu ao governo.
“Disse também que o comportamento da Rede Globo deveria fazê-la merecedora de atenção e favores especiais do governo”, registra o livro.
Marinho apelou sem constrangimentos. Ameaçou vender a Rede Globo caso não tivesse apoio para continuar a crescer. O resto da história todo mundo sabe.
A mídia reage, hoje, ao projeto sobre a atualização das leis de comunicação com argumento falso e insensato que o objetivo é o de censurar. No entanto, em plena ditadura, adotou a inércia, o silêncio, diante dos atos concretos de restrição à liberdade de escrever. Não de escrever sobre tudo, mas, somente sobre certos assuntos como tortura e assassinato nos porões da ditadura. Essa é a diferença em relação à genérica denúncia de restrição à festejada liberdade de imprensa.
A censura, nesse contexto, cumpria outro papel. Excluía a responsabilidade direta dos donos da mídia e de muitos editores autoritários coniventes que sempre se desculparam ao apontar a censura governamental como a razão do silêncio.
A ditadura seria outra – talvez Ditabranda – contada a partir do que foi publicado na ocasião.
Para a imprensa conservadora, reacionária nos anos de chumbo, esse tema dói. É um nervo exposto.
SUGESTÃO de LEITURA:
O livro de Beatriz Kushnir, feito a partir da edição de sua tese de doutorado, “Cães de Guarda - Jornalistas e Censores do AI-5 à Constituição de 1988” (Editora Boitempo), é um excelente material para quem quer realmente conhecer a imprensa burguesa e suas relações com o poder.

Ela foca seu trabalho nos grandes meios de comunicação nos tempos de ditadura cívico-militar-imperialista, com destaque para a Organizações Globo, o Grupo Folha e o jornal Folha da Tarde, Grupo Abril e outros, mas serve para entendermos os dias de hoje. Esta, inclusive, é a principal explicação do porque o livro quase não foi divulgado. Até agora, a grande imprensa ignorou este trabalho.

De que lado está Yoani Sánchez?

Sabia que não demoraria muito para a Yoani Sánchez ser desmascarada. O site espanhol Terceira Informação noticia o encontro da "blogueira e ativista" com o ex-agente policial da ditadura de Fulgencio Batista, Félix Rodrigues.

O encontro é organizado pela Associação de Veteranos da Baía de Cochinos, grupo de cubanos que vivem em Miami e que, ao lado de tantos outros, notabilizou-se por espalhar terror à ilha, como relata com maestria Fernando Morais, no livro que acabei de ler: "Os Últimos Soldados da Guerra Fria".
Aliás, recomendo pela brilhante reportagem feita pelo autor e jornalista.
Numa nota emitida pela Associação em Miami, na semana passada, os veteranos dão boas vindas a Yoani, que classificam de “lutadora pela democracia e os direitos humanos”.
Felix Rodrigues nada mais é do que o mandante do assassinato de Che Guevara, que morreu na Bolívia em outubro de 1967. De acordo com documentos do governo norte-americano, o Capitão Ramos ou “O Gato”, recebeu por rádio a ordem para matar Che.
Rodríguez já admitiu publicamente que ordenou a um de seus homens para atirar "embaixo do pescoço para que Che parecesse ter sido morto em combate.”
A pergunta é simples: De que lado está Yoani?

Por Marco Aurélio Mello, no blog DoLaDoDeLá: