Como reunir, em cada
aparelho, alguns dos metais mais raros do planeta - cuidando para que a
devastação resultante converta-se rapidamente em desperdício.
Algo como cinco bilhões
de pessoas, em todo o mundo, usará um celular em 2020. Cada aparelho é feito de
muitos metais preciosos, sem os quais não seriam possíveis vários de seus
principais recursos tecnológicos. Alguns como o ouro, nos são familiares. Outros,
como o térbio, são menos conhecidos.
A mineração desses
metais é uma atividade que está na base da moderna economia global. Mas seu
custo ambiental pode ser enorme, provavelmente muito maior do que temos
consciência. Vamos conhecer alguns desses metais-chave, o que fazem, e o custo
ambiental de retirá-los do solo.
Derramamento
catastrófico de rejeitos
Ferro (20%), alumínio
(14%) e cobre (7%) são os três metais mais
comumente usados em seu celular. O ferro é utilizado nos alto-falantes e
microfones, e nas molduras de aço inoxidável. O alumínio é uma alternativa leve
ao aço inoxidável, também usado na fabricação do forte vidro das telas dos
smartphones. O cobre é utilizado na fiação elétrica.
Contudo, enormes
volumes de resíduos, líquidos e sólidos (denominados “rejeitos”), são
produzidos quando da extração desses metais. Normalmente, os rejeitos das minas
são armazenados em vastas estruturas de captação, que chegam a ter vários
quilômetros quadrados de área. Catastróficos derramamentos de rejeitos de
mineração alertam para o perigo dos métodos inadequados de construção e da
negligência no monitoramento da segurança das minas.
O maior desastre já
registrado ocorreu em novembro de 2015, quando o rompimento de uma barragem
numa mina de ferro em Minas Gerais, no Brasil, provocou o derramamento de 62
milhões de metros cúbicos(o suficiente para encher 23 mil piscinas olímpicas)
de rejeitos ricos em ferro no Rio Doce. A lama inundou as cidades locais e
matou 19 pessoas, atravessando 650 km até alcançar o Oceano Atlântico, 17 dias
depois.
Mas esse é só um dos 40
derramamentos de rejeitos de mineração ocorridos na década passada, com
impactos de longo prazo ainda
desconhecidos na saúde humana e no meio ambiente. Uma coisa, porém, está clara.
Conforme aumenta nossa sede por tecnologia, aumentam em número e tamanho as
barragens de rejeitos da mineração, assim como o seu risco de rompimento.
Destruição
do ecossistema
Ouro e estanho são
comuns em celulares. Mas a mineração desses metais é responsável por grande
devastação ecológica, da Amazônia peruana às ilhas tropicais da Indonésia. A
mineração do ouro, usado nos celulares principalmente para fazer conectores e
fios, é uma das principais causas do desmatamento da Amazônia. Além disso, sua
extração da terra gera resíduos com alto teor de cianeto e mercúrio –
substâncias altamente tóxicas que podem contaminar a água potável e os peixes,
com sérias consequências para a saúde humana.
O estanho é usado como
elemento para solda em eletrônica. O óxido de índio-estanho é aplicado às telas
de celulares como um revestimento fino, transparente e condutor, que oferece a
funcionalidade de tela sensível ao toque. Os mares que cilrcundam as ilhas
Bangka e Belitung, na Indonésia, fornecem cerca de um terço do suprimento
mundial. No entanto, a dragagem em grande escala de areia rica em estanho,
retirada do fundo do mar, destruiu o precioso ecossistema de corais, e o
declínio da indústria pesqueira gerou problemas econômicos e sociais no país.
Lugar
mais poluído do planeta?
O que torna seu celular
inteligente? São os chamados elementos de terras-raras – um grupo de 17 metais
com nomes estranhos, tais como o praseodímio, que são extraídos principalmente
na China, na Rússia e na Austrália.
Frequentemente
apelidados de “metais tecnológicos”, os terras-raras são fundamentais para o
design e a função dos smartphones. Os cristalinos alto-falantes, os microfones
e a vibração dos celulares só são possíveis devido aos diminutos, porém
potentes motores e ímãs fabricados com neodímio, disprósio e praseodímio. O
térbio e o disprósio também são usados para produzir as cores vibrantes de uma
tela de smartphone.
A extração de
terras-raras é um negócio difícil e sujo, envolvendo o uso dos ácidos sulfúrico
e fluorídrico, e a produção de grandes quantidades de resíduos altamente
tóxicos. Talvez o exemplo mais perturbador sobre o custo ambiental de nossa
sede por celulares seja o “lago mundial do lixo tecnológico” em Baotou, na
China. Criado em 1958, esse lago artificial recolhe o lodo tóxico das operações
de processamento de terras-raras.
Os valiosos metais
usados na fabricação de celulares são um recurso finito. Estimativas recentes
indicam que nos próximos 20 a 50 anosnão teremos mais alguns dos metais
terras-raras – o que nos leva a pensar se ainda haverá celulares por aí.
Reduzir o impacto ambiental do seu uso exige que os fabricantes aumentem a vida
útil dos produtos, tornem a reciclagem mais direta e reduzam os impactos
ambientais causados pela busca desses metais. Em todo o mundo, as empresas de
mineração afirmam ter feito avanços em extração mais sustentável. Mas também
nós, como consumidores, precisamos considerar os celulares menos como um objeto
descartável e mais como um recurso precioso, que carrega enorme peso ambiental.
*Karen Hudson-Edwards é
professora de mineração sustentável na Universidade de Exeter, no Reino Unido;
Patrick Byrne é professor sênior de geografia na Universidade John Moores de
Liverpool, Reino Unido.
**Tradução de Inês
Castilho publicada originalmente no Outras Palavras