segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

BBB, de barbárie, baixaria e boçalidade (Blog tijolaço.com)

Será um crime mais grave do que aquele que pode ter ocorrido se a polícia e o Ministério Público abafarem esta insólita situação criada no tal “Big Brother Brasil”.
Um país que tem a lei Maria da Penha não pode aceitar que um ato de violência – e a expulsão de um dos participantes deixa claro que a TV Globo, com o imenso arsenal de câmaras instalada na “prisão” onde encarcera pessoas que, em busca de dinheiro e fama, submetem-se a isso, tem elementos para considerar que houve uma transgressão sexual ali.
Transgressão que a Globo insufla, estimula e procura.
Nada a ver com liberdade de orientação sexual ou com a dignidade pessoal dos participantes, que merecem respeito como seres humanos, ao contrário do que, a esta altura, fica claro que a emissora não lhes tem.
Ao eliminar o participante acusado de estupro, a Globo assume que algo grave ocorreu.
Com pessoas que estão sob sua tutela e que por ela são induzidas, inclusive pela bebida – que não cai do céu – a comportamentos e exposições íntimas.
A menos que encontre um juiz acoelhado diante da Globo, a defesa do rapaz acusado apelará com sucesso às circunstâncias em que tudo transcorreu, à embriaguez promovida pela produção do programa, às circunstâncias de oferecer aposentos comuns, enfim, a tudo o que possa servir de atenuante – embora não como razão para o abuso - para a suposta violência sexual.
Não é lícito supor que aquelas pessoas, monitoradas todo o tempo por câmeras, estejam fora da vigilância do verdadeiro “Big Brother”, aquele que tudo vê e controla.
Mas o pior é se nada de abusivo entre os participantes do programa aconteceu, o que não se pode descartar. Porque o abuso aí é de outra ordem.
É toda a sociedade brasileira, sobretudo os mais jovens, sendo submetida à ideia de que o sexo não-consentido é um elemento de ganho material, via marketing.
Há uma inegável indução – que, repito, não exime a culpa individual – a tudo isso.
E o motivo é dinheiro.

domingo, 15 de janeiro de 2012

UMA BOA INDICAÇÃO DE LEITURA PARA 2012.


O ano não começa bem para os tucanos e a mídia ventríloqua que é seu oráculo. 2011 termina com o sinal vermelho aceso com as 206 assinaturas obtidas pelo deputado comunista Protógenes Queiróz no requerimento pela abertura da CPI para investigar a privataria ocorrida no governo do presidente tucano Fernando Henrique Cardoso, cujas irregularidades estão fartamente documentadas no sucesso editorial ignorado pela mídia, o livro do repórter Amaury Ribeiro Jr, A privataria tucana.
Camilo Castelo Branco, o grande escritor português do século 19, dizia que o silêncio da imprensa sobre certos assuntos equivale a uma confissão. Nestas duas últimas semanas, pode-se dizer que o silêncio da mídia e a fúria desqualificadora dos cardeais tucanos correspondem a um recibo passado sobre um assunto profundamente incômodo e inoportuno para o conservadorismo liderado por Fernando Henrique Cardoso e José Serra.
O livro expôs as entranhas do entreguismo e da relação, esta sim carnal, entre aqueles que mandaram no país até 2002 e o grande capital brasileiro e estrangeiro, que infelicitou a nação. Com base em documentos oficiais, e não em denúncias superficiais da imprensa, Amaury Jr. descreve fatos e assaltos ao tesouro público que eram conhecidos da nação embora não suficientemente documentados. Dilapidação e apropriação de patrimônio público numa escala jamais vista em toda a história da república, envolvendo valores na casa dos bilhões de reais.
As poucas notícias saídas nos grandes “jornalões” – na televisão, vistas somente na TV Record – mal disfarçavam a torcida para a CPI não dar certo. Primeiro, na esperança do deputado comunista não conseguir as assinaturas necessárias para o requerimento da CPI (são exigidas 171 assinaturas). Depois, pela não instalação da CPI. E, para isso, alega-se de tudo, inclusive que o governo ou seu partido, o PT, não teriam interesse nessa investigação. Seja porque a CPI do Banestado, principal fonte dos documentos do livro de Amaury Jr., não concluiu seus trabalhos; ou porque – como alegam estes interlocutores do tucanato – o relato campeão de vendas neste final de ano também indica divisões internas no próprio PT.
Uma CPI para apurar o himalaia de “mal-feitos” tucanos terá repercussões na conjuntura política por expor a lama profunda do governo de FHC, que poderá resvalar sobre os barões da mídia. Amparado por uma ordem judicial, Amaury Jr. manuseou os documentos da CPI do Banestado. Conhece aqueles documentos, e garante que a repercussão de uma investigação oficial irá muito além daquela alcançada pelo seu livro, e poderá expor as relações íntimas entre o governo de FHC e grandes empresas de mídia, entre as quais houve aquelas que tiveram dívidas perdoadas depois das privatizações.
A alegação do combate à corrupção é a grande bandeira sob a qual a oposição conservadora e neoliberal esconde sua falta de programa e de projeto para o país. Há uma verdadeira articulação entre denúncias que a mídia publica e sua repercussão no Congresso Nacional, onde parlamentares conservadores ressoam e amplificam o ruído surgido nas páginas dos jornais e revistas. Seu silêncio veemente ante as denúncias documentadas do livro de Amaury Jr. pode significar aquela confissão sugerida por Camilo Castelo Branco. Mas indica também o tamanho dos problemas que terão pela frente principalmente num ano eleitoral como será 2012.
Mesmo porque a CPI requerida pelo deputado Protógenes Queiróz é, ela sim, a resposta a um clamor nacional, à exigência dos brasileiros que não aceitaram, não se conformam e querem ver esclarecidos os escândalos que envolveram a dilapidação do patrimônio público e o desmonte do Estado ocorridos sob o comando de Fernando Henrique Cardoso e sua equipe de governo, com destaque para José Serra.