O ano não começa bem para os tucanos e a mídia ventríloqua que é seu oráculo. 2011 termina com o sinal vermelho aceso com as 206 assinaturas obtidas pelo deputado comunista Protógenes Queiróz no requerimento pela abertura da CPI para investigar a privataria ocorrida no governo do presidente tucano Fernando Henrique Cardoso, cujas irregularidades estão fartamente documentadas no sucesso editorial ignorado pela mídia, o livro do repórter Amaury Ribeiro Jr, A privataria tucana.
Camilo Castelo Branco, o grande escritor português do século 19, dizia que o silêncio da imprensa sobre certos assuntos equivale a uma confissão. Nestas duas últimas semanas, pode-se dizer que o silêncio da mídia e a fúria desqualificadora dos cardeais tucanos correspondem a um recibo passado sobre um assunto profundamente incômodo e inoportuno para o conservadorismo liderado por Fernando Henrique Cardoso e José Serra.
O livro expôs as entranhas do entreguismo e da relação, esta sim carnal, entre aqueles que mandaram no país até 2002 e o grande capital brasileiro e estrangeiro, que infelicitou a nação. Com base em documentos oficiais, e não em denúncias superficiais da imprensa, Amaury Jr. descreve fatos e assaltos ao tesouro público que eram conhecidos da nação embora não suficientemente documentados. Dilapidação e apropriação de patrimônio público numa escala jamais vista em toda a história da república, envolvendo valores na casa dos bilhões de reais.
As poucas notícias saídas nos grandes “jornalões” – na televisão, vistas somente na TV Record – mal disfarçavam a torcida para a CPI não dar certo. Primeiro, na esperança do deputado comunista não conseguir as assinaturas necessárias para o requerimento da CPI (são exigidas 171 assinaturas). Depois, pela não instalação da CPI. E, para isso, alega-se de tudo, inclusive que o governo ou seu partido, o PT, não teriam interesse nessa investigação. Seja porque a CPI do Banestado, principal fonte dos documentos do livro de Amaury Jr., não concluiu seus trabalhos; ou porque – como alegam estes interlocutores do tucanato – o relato campeão de vendas neste final de ano também indica divisões internas no próprio PT.
Uma CPI para apurar o himalaia de “mal-feitos” tucanos terá repercussões na conjuntura política por expor a lama profunda do governo de FHC, que poderá resvalar sobre os barões da mídia. Amparado por uma ordem judicial, Amaury Jr. manuseou os documentos da CPI do Banestado. Conhece aqueles documentos, e garante que a repercussão de uma investigação oficial irá muito além daquela alcançada pelo seu livro, e poderá expor as relações íntimas entre o governo de FHC e grandes empresas de mídia, entre as quais houve aquelas que tiveram dívidas perdoadas depois das privatizações.
A alegação do combate à corrupção é a grande bandeira sob a qual a oposição conservadora e neoliberal esconde sua falta de programa e de projeto para o país. Há uma verdadeira articulação entre denúncias que a mídia publica e sua repercussão no Congresso Nacional, onde parlamentares conservadores ressoam e amplificam o ruído surgido nas páginas dos jornais e revistas. Seu silêncio veemente ante as denúncias documentadas do livro de Amaury Jr. pode significar aquela confissão sugerida por Camilo Castelo Branco. Mas indica também o tamanho dos problemas que terão pela frente principalmente num ano eleitoral como será 2012.
Mesmo porque a CPI requerida pelo deputado Protógenes Queiróz é, ela sim, a resposta a um clamor nacional, à exigência dos brasileiros que não aceitaram, não se conformam e querem ver esclarecidos os escândalos que envolveram a dilapidação do patrimônio público e o desmonte do Estado ocorridos sob o comando de Fernando Henrique Cardoso e sua equipe de governo, com destaque para José Serra.
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