Começa
na próxima quarta-feira, em Mendoza, Argentina, a Cúpula do Mercosul. No
encontro dos chefes de Estado, no fim da semana, estava prevista a passagem da
Presidência ‘pro tempore’ do bloco à República do Paraguai, leia-se, ao
presidente democraticamente eleito, Fernando Lugo. Que atitude tomarão agora
Dilma Rousseff, Pepe Mujica e Cristina Kirchner diante do golpe da última
sexta-feira? Recorde-se que o mesmo Congresso que derrubou Lugo bloqueia há
mais de um ano o ingresso da Venezuela no Mercosul, já aprovado pelos demais parceiros. O
argumento soa agora irônico: 'o governo Chavez não é democrático', alegam os senadores
paraguaios que tiraram Lugo da presidência em menos de 30 hs. Em entrevista à
TV Pública de seu país, sábado (23/06), Cristina Kirchner foi enfática quanto a
posição de seu governo “Argentina no va a convalidar el golpe de Estado en
Paraguay”. Com exemplar coerência, a Casa Rosada decidiu na tarde de sábado
retirar seu embaixador em Assunção, assumindo a liderança na retaliação
regional à derrubada de Lugo. Horas depois, já na noite de sábado, o Brasil
adotaria atitude parecida, seguido pelo Uruguai: ambos convocaram seus
representantes 'para consultas'. Brasília está sendo cortejada pelos novos
ocupantes do Palácio de los Lopez, que prometem resolver a cidadania de 400 mil
brasiguaios.
A destituição de Lugo
representa um ponto fora da curva, ou o golpismo ainda lateja na América Latina?
O caso paraguaio remete
ao golpe de Honduras, que expulsou do poder o presidente Manuel Zelaya em junho
de 2009, e logo em seguida forçou eleições fraudulentas, já que se realizaram
sob um clima de terror e com proscrições, que levaram ao poder a Porfirio Lobo,
em novembro desse mesmo ano.
Os Estados Unidos
aprovaram o golpe contra Zelaya, a quem viam com receio por estar aliado a Hugo
Chávez, respaldaram o processo “eleitoral” e depois, como era previsível,
reconheceram a legalidade do mandato de Lobo, que não foi validada pela maioria
dos governos americanos, com o Brasil liderando essa frente.
Na carona deste
mandatário marionete do Paraguai, Washington recupera o seu domínio pleno no
estratégico “umbigo” da América do Sul. Possivelmente o Departamento de Estado
Norte Americano já não precisará forçar mais relatórios falsos sobre a suposta
presença de “células adormecidas” da Al Qaeda na Tríplice Fronteira Paraguai,
Brasil e Argentina, para justificar a presença de tropas próprias.
O fim da efêmera
experiência de Lugo restitui ao Paraguai o seu status de peça chave
incondicional dos Estados Unidos, que valoriza geopoliticamente as fronteiras
do país com o Brasil, a Argentina e, sobretudo, o extenso limite paraguaio com
a Bolívia, país onde Washington sempre aspira voltar a influenciar,
especialmente depois que os agentes da DEA foram expulsos pelo governo de Evo
Morales.
Pela queda de Lugo,
agradecem os que apostam num autoritarismo “constitucionalizado” na A.L., de
caráter antipopular e pró-ALCA. Agradecem os torturadores que não terão seus
crimes revelados, agradecem os que querem resolver as questões dos movimentos
sociais pela repressão. Agradecem as grandes corporações multinacionais,
produtoras de transgênicos, como a Monsanto e Syngenta com apoio de uma
oligarquia agrária. Agradece, também, a guerrilha paraguaia, que agora terá
chance de sair do isolamento a que tinha se submetido, ao desenvolver a luta
armada contra um governo legítimo, consagrado pelas urnas.
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