sábado, 26 de abril de 2014

Órgão de saúde da ONU diz que a poluição aérea é “o maior risco ambiental à saúde”

Cidade Chinesa 2014
Um relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde na terça-feira revela que a poluição do ar causou 7 milhões de mortes em 2012, uma em cada oito no planeta. Os dados demonstram um aumento de 100% neste tipo de morte desde a última pesquisa em 2008, com 90% delas ocorrendo em países em desenvolvimento, sendo as regiões do Pacífico do Oeste (que inclui o leste da Ásia e as ilhas Pacíficas) e Sudeste Asiático sendo as mais afetadas.
O órgão de saúde da ONU afirma no relatório que a poluição aérea agora é “o maior risco ambiental à saúde”, causando mortes por doenças cardiovasculares (60% dos casos), câncer do pulmão e obstruções respiratórias crônicas. A diretora do departamento de saúde pública da OMS, Maria Neira, disse na rede norte-americana CNN que “poucos fatores têm um maior impacto na saúde global do que a poluição do ar: as evidências indicam a necessidade de um esforço conjunto para limpar o ar que todos respiramos”.
Em outubro do ano passado, a organização classificou a poluição aérea oficialmente como um fator cancerígeno, colocando-a lado a lado com asbestos, tabaco, e raios ultravioleta como uma das principais causas de câncer.
Em grande parte, essa poluição é criada por emissões industriais e de motores a diesel e gasolina, porém, muito dela vem da queima de carvão e madeira para cozinhas domésticas. A OMS estima que cerca de 3 bilhões de pessoas no mundo ainda usam métodos tradicionais como estes para cozinhar. Na Índia, por exemplo, calcula-se que 63% da população cozinha desta maneira.

O chefe do Grupo de Pesquisas Ambientais do King´s College de Londres, Frank Kelly, afirmou no jornal The Washington Post que é tarefa dos governos diminuir os níveis de poluição por meio de legislações, pela remoção de usinas elétricas e fábricas das grandes cidades, e providenciando alternativas baratas para fogões de carvão e madeira. As pessoas também podem diminuir os riscos a si próprias evitando dirigir na hora do rush e trafegando por ruas menos movimentadas, segundo Kelly.

“A poluição do ar tem causado mais mortes  do que doenças graves, como o HIV e a malária juntas”, afirmou o diretor geral da Organização para o Desenvolvimento Industrial (Unido), Kandeh Yumkella, em uma conferência da ONU ocorrida em Oslo, na Noruega, em abril de 2013.


Os efeitos sobre a saúde são devastadores. Entre os perigos presentes no ar poluído estão as partículas ultrafinas, conhecidas como PM 2,5. Presentes  na fuligem liberada pelos carros. Essas partículas invisíveis podem penetrar nos pulmões e na corrente sanguínea, causando doenças cardíacas, câncer de pulmão, asma e infecções respiratórias. Segundo a OMS, a média da concentração anual dessas partículas no ar deve ser de até 20 microgramas por metro cúbico (µg/m3), níveis considerados seguros.

Desde 2004, o números de pessoas que morrem de doenças relacionadas à poluição vem crescendo. Representantes da ONU acreditam que, até 2030, se os países passarem a investir em energias renováveis, como solar, hidrelétrica e eólica, há possibilidade de o nível de poluição mundial cair pela metade.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Águas e fronteiras na Palestina.

Uma lista de conhecidos obstáculos entravam a solução da chamada Questão Palestina: a definição das fronteiras entre Israel e um futuro Estado palestino, o estatuto político da cidade de Jerusalém, o espinhoso tema dos refugiados palestinos e o destino dos assentamentos de colonos judeus na Cisjordânia. Todavia, negligencia-se a importância das divergências sobre o controle de um recurso natural escasso, que são as águas superficiais e subterrâneas de Israel/Palestina.

A Palestina é a região histórico-geográfica que engloba o Estado de Israel e os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. No conjunto da região, ao longo das últimas décadas, a escassez natural do chamado “ouro azul” tornou-se mais dramática com o crescimento acelerado da população e o consequente incremento da pressão sobre os recursos hídricos.
Praticamente toda a porção meridional da Palestina apresenta climas áridos e semiáridos, e os principais recursos hídricos superficiais são representados pela bacia do Rio Jordão, curso fluvial que tem suas nascentes em território sírio, nas estratégicas Colinas de Golã, área onde convergem as fronteiras de Israel, Síria e Líbano.

Com apenas 251 quilômetros de extensão e uma largura máxima de 30 metros, o Jordão tem sentido geral norte-sul e serve como suporte para um importante trecho da fronteira entre Israel e Jordânia. A bacia do Jordão cobre cerca de um terço da superfície da Cisjordânia. Em seu médio e baixo vale, o rio flui sobre terrenos cujas cotas altimétricas estão abaixo do nível geral dos mares, como é o caso de sua foz no Mar Morto, a maior depressão absoluta do mundo. (veja o mapa 1).


Essa peculiaridade do Jordão se explica pelo fato de ele fazer parte do segmento setentrional do grande Vale do Rift. Formado cerca de 35 milhões de anos atrás, como decorrência da separação das placas Africana e Arábica, o Rift é um complexo de falhas tectônicas que se estende por mais de 5 mil quilômetros entre a Ásia Ocidental e a África Oriental.

O Jordão é um rio de pequeno débito fluvial. As maiores precipitações ocorrem no alto vale, mas não chegam a mil milímetros anuais. Ao longo de seu trajeto, dois locais chamam a atenção: o Mar da Galileia, ou Lago Tiberíades, e o Mar Morto. Atravessado e alimentado pelas águas do Jordão, o Mar da Galileia e suas circunvizinhanças foram, na Antiguidade, cenários bíblicos ligados à vida de Jesus.
De um ponto de vista geopolítico, o Mar da Galileia têm importância vital para Israel, pois de lá é retirada a água que, através do Aqueduto Nacional, abastece grande parte do país. A contínua e volumosa retirada de água, que se verifica desde a década de 1950, tem contribuído para a diminuição do caudal do Jordão a jusante, afetando áreas da Jordânia, da Cisjordânia e do Mar Morto. 
Este mar fechado se destaca por sua grande salinidade, cerca de dez vezes maior que a encontrada nos oceanos. Fruto de uma conturbada história geológica, o mar é abastecido essencialmente pelas águas do Rio Jordão. Até a década de 1950, o fluxo de água que alimentava o Mar Morto se equiparava à taxa de evaporação, mantendo estável o nível das águas. O uso crescente dos recursos hídricos da bacia por Israel – e, em escala bem menor, pela Jordânia e Síria – reduziram drasticamente o fluxo de água do rio que chegava ao Mar Morto.

Juntando-se a isso a poluição e os efeitos de atividades industriais (extração de sal e fosfatos) e turísticas, o mar perdeu cerca de 30% de sua superfície original. Em 1960, o nível da superfície do mar encontrava-se 395 metros abaixo do nível dos mares; hoje, está a 425 metros, e experimentando rebaixamento de um metro por ano. 
Em 2005, Israel, Jordânia e a Autoridade Nacional Palestina formalizaram um acordo de construção de um duto para transferir água do Mar Vermelho, a fim de evitar o total ressecamento do Mar Morto. O projeto, até agora, não evoluiu. Ambientalistas alertam que ele alteraria a química peculiar do mar e sugerem que o ideal seria recuperar as águas do Jordão.

O volume de água renovável da bacia é de aproximadamente 2,4 bilhões de metros cúbicos; sua utilização crescente já atinge a marca de 3 bilhões. Para suprir esse déficit, a saída tem sido retirar água de lençóis freáticos, que não têm capacidade de reposição na mesma velocidade da retirada. As formas de obtenção de água por meios industriais, como a reciclagem e a dessalinização, são caras e insuficientes.
A exploração dos recursos hídricos regionais representa mais um fator nas complexas disputas sobre algumas áreas da bacia, como as Colinas de Golã e a Cisjordânia, territórios ocupados por Israel na Guerra dos Seis Dias (veja o box). No imaginário israelense, a água tem uma dimensão “filosófica”, ligada à ideia do deserto que floresce e que remonta aos primeiros imigrantes na Palestina, no final do século XIX. Israel enxerga as águas do Jordão sob o prisma da segurança nacional e isso representa um enorme obstáculo para a eventual devolução das Colinas de Golã à Síria e da Cisjordânia aos palestinos.
O tesouro subterrâneo da Cisjordânia

As montanhas da Cisjordânia não são muito altas, mas por sua disposição no sentido geral norte-sul, dividem a região em duas áreas pluviométricas. A parte oeste é mais úmida, e a porção oriental, mais seca. São três os principais aquíferos da região: o ocidental, o do norte e o oriental (veja o mapa 2). 


No aquífero ocidental, as águas escoam em direção oeste e são alimentadas por chuvas. Essa região concentra cerca de 90% do volume pluviométrico da Cisjordânia. O aquífero tem uma série de poços que estão do outro lado da linha verde, isto é, da fronteira israelense definida pela ONU após a guerra de 1948-49. Israel tem o controle sobre 80% desses recursos.

Na área do aquífero do norte, existem também poços localizados do outro lado da linha verde, o que permite a Israel captar cerca de 70% do suprimento de água. O aquífero oriental é o de menor volume de água e não participa do abastecimento de água de Israel, mas tem servido para suprir os assentamentos de colonos israelenses que, desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, vêm se expandindo nessa porção da região. Em linhas gerais, Israel tem sob seu controle cerca de 80% dos recursos hídricos da Cisjordânia.
A construção por Israel do muro de segurança na Cisjordânia, a partir de 2002, assestou um golpe complementar na soberania hidráulica dos palestinos. O traçado do muro separou territórios sob administração da Autoridade Nacional Palestina de poços que eram, há muito, utilizados pela população palestina. Hoje, essa população depende da boa vontade das autoridades israelenses para o uso dos antigos poços.

sábado, 5 de abril de 2014

Vala Comum: documentário revela o destino dos mortos pela ditadura no Brasil.



Vala comum é uma cova normalmente localizada em cemitérios onde um conjunto de cadáveres não identificados é enterrado sem nenhuma cerimônia, sem o conhecimento dos familiares e sem nenhum registro oficial. Vala Comum é o titulo do filme que João Godoy realizou em 1994 sobre 1.049 ossadas encontradas em uma cova no cemitério Dom Bosco, no bairro de Perus, periferia de São Paulo.
 
Em princípio, seis presos políticos deveriam estar enterrados nessa vala: Denis Antonio Casemiro, Dimas Casemiro, Flávio Carvalho Molina, Francisco José de Oliveira, Frederico Eduardo Mayr e Grenaldo de Jesus Silva, mas a exumação mostrou o indício de outros desaparecidos políticos.
 
O documentário de Godoy traz os depoimentos Egle Vannuchi Leme, Felícia Oliveira, Gertrud Mayr, Gilberto Molina e Ivan Seixas. Gilberto é irmão de Flávio Molina, morto em 1971, Ivan é filho de Joaquim Alencar Seixas, que foi preso e torturado junto com o seu pai, e Gertrud é mãe de Frederico Mayr. Já Egle Leme é mãe de Alexandre Vannuchi e Felícia é mãe e Isis Oliveira. Todos assassinados pelo governo militar instalado no Brasil em 31 de março de 1964.