Abundante, limpa,
renovável e disponível em muitos lugares, a força dos ventos é capturada por
aerogeradores e transformada em eletricidade pelas usinas eólicas. Por isso, a
avaliação do potencial eólico de um determinado local exige um conhecimento
técnico detalhado, especialmente do comportamento dos ventos em termos de
constância, intensidade e direção, que sofrem influências de fatores como relevo
e rugosidade do terreno.
Não basta uma brisa.
Para ser aproveitável comercialmente, a energia eólica requer velocidade mínima
do vento de 7 a 8 metros por segundo, à altura de 50 metros do solo. Segundo a
Organização Mundial de Meteorologia, apenas 13% das terras emersas do globo se
encaixam nessa categoria, mas a proporção varia bastante entre continentes e regiões.
As terras emersas não são o limite: países de pequena extensão territorial e
densidades demográficas mais ou menos elevadas, como a Dinamarca, já há algum
tempo instalaram parques eólicos na plataforma continental (offshore).
Embora a força dos ventos
seja utilizada há muitos séculos, seu aproveitamento em escala comercial para a
geração elétrica iniciou-se na década de 1970, como decorrência dos “choques do
petróleo”. Foi naquela época que os Estados Unidos e alguns países da Europa
resolveram investir em fontes alternativas para a produção de energia elétrica,
a fim de diminuir a dependência do “ouro negro”.
Nas duas últimas
décadas, a questão ambiental ganhou contornos políticos mais agudos. A energia
hidrelétrica, uma fonte renovável e limpa, tornou-se alvo de controvérsias, em
função do impacto ambiental da instalação de grandes barragens (pense em Belo
Monte, por exemplo). Por isso, os defensores do desenvolvimento de energias
renováveis apostaram suas fichas em fontes dispersas no espaço geográfico que
permitam uma produção descentralizada e que tenham limitado impacto ambiental.
Entre todas as fontes alternativas, é a eólica que apresenta maior incremento
na atualidade: em pouco mais de dez anos, quintuplicou-se a potência global
instalada desses “moinhos de vento” pós-modernos.
Ainda não são tão
numerosos os países engajados no desenvolvimento desse tipo de energia. Alguns
deles, como Alemanha e Espanha, foram pioneiros na criação de legislações
específicas para subvencionar a geração eólica. Até 2007, a Alemanha ocupou a
liderança da produção eólica, chegando a ser responsável por 25% do total
instalado no mundo. Mas o dinamismo do setor vem promovendo transformações
muito rápidas: em 2008, os Estados Unidos ultrapassaram a Alemanha e, dois anos
depois, a China galgou o primeiro posto (veja o gráfico 1).
Os dez países com maior
produção de energia eólica são responsáveis por cerca de 80% da potência global
instalada – um dado estatístico que indica as amplas possibilidades de
crescimento dessa fonte energética. Atualmente, pouco mais de 30% da produção
total de energia eólica está, ainda, concentrada na Europa – mas o avanço dos
Estados Unidos, da China e de outros países asiáticos modificará o cenário, de
forma radical, nas próximas décadas.
Apesar do rápido
crescimento, a fonte eólica representa apenas 2% da matriz elétrica mundial,
embora em alguns países europeus essa participação seja maior. Na Alemanha, a
participação é pouco superior a 7%, enquanto na Espanha chega a 25%. Na China e
nos Estados Unidos, consumidores vorazes de energia, a participação da fonte
eólica na matriz elétrica é inferior a 3%.
O Brasil está no jogo.
No país, o uso da fonte eólica para a geração elétrica conheceu crescimento
exponencial na última década. Entre 2001 e 2013, saltamos de sete usinas
eólicas para 90. A capacidade instalada passou de insignificantes 22 megawatts
(MW), em 2002, para cerca de 2 mil MW em 2012. Segundo a Empresa de Pesquisas
Energéticas, em 2020 a participação da fonte eólica na matriz elétrica do
Brasil deverá crescer de 1% para 7%, o que poderia transformá-la na segunda
maior fonte de geração de eletricidade do país.
Entre os vários fatores
que explicam esse crescimento, merece destaque a criação pelo governo federal,
em 2002, do Programa de Incentivos às Fontes Alternativas de Energia Elétrica
(Proinfa). O programa, com foco nas regiões Nordeste e Sudeste, tem os
objetivos de ampliar a participação de fontes alternativas na matriz elétrica e
de racionalizar a oferta energética por meio da complementaridade entre os
regimes eólico, de biomassa e hidrológico. Paralelamente, a decolagem da fonte
eólica beneficiou-se da queda expressiva no preço da geração de energia, que
tornou-se menor que o da biomassa e das pequenas centrais elétricas (PCHs) e,
na sequência, que o das usinas termelétricas movidas a gás natural (veja o
gráfico 2).
O impulso final veio
com uma mudança de regra nos leilões de energia promovidos pelo governo. Até
2012, fazia-se o leilão de geração e, depois, o da linha de transmissão, um
método que deixava parques eólicos prontos à espera de sistemas de transmissão.
Pela nova regra, o parque eólico deve ter linhas de transmissão previstas já no
leilão, de modo que todo o conjunto de geração e transmissão entre em operação
simultaneamente. Observe-se que, quase sempre, os locais onde se instalam as
usinas eólicas são distantes dos mercados de maior consumo.
As regiões brasileiras
com maior número de usinas e maior capacidade instalada são o Nordeste e o Sul
– que, juntas, respondem por mais de 80% dos parques eólicos, da geração
energética e dos investimentos previstos para os próximos anos. Entre os
estados, destacam-se Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará e Rio Grande do Sul
(veja o mapa).
Nem tudo são flores. A
fonte eólica também tem impactos ambientais, associadas a poluições sonora e
visual dos aerogeradores e à implantação de extensas linhas de transmissão. A
energia eólica nunca dará conta, sozinha, das necessidades energéticas do Brasil,
mas contribuirá decisivamente para complementar a produção das hidrelétricas.
Por sorte, o período de ventos mais fortes na porção tropical do país (inverno)
coincide com o de menor pluviosidade, justamente quando o nível dos
reservatórios das hidrelétricas costuma descer até patamares críticos.
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