Depois de anos
consolidando acordos de segurança na América Latina e no Caribe, o Brasil
começa a olhar para mais longe, confirmando a sua influência do outro lado do
Atlântico. Tudo começou silenciosamente, com o país proporcionando assistência
técnica em ciência, tecnologia e desenvolvimento Professional a diversos países
do continente africano. Ao longo da última década, porém, as iniciativas de
soft power somaram-se a um aumento dramático na cooperação militar com a
África, com a realização de exercícios navais conjuntos, transferência de
treinamento militar e armamentos, e a criação de postos avançados em portos
localizados em toda a costa oeste do continente. Hoje, a postura oficial da
Defesa brasileira tem um alcance ainda maior, com capacidade de projeção de
poder indo da Antártida à África. As parcerias transatlânticas estabelecidas
pelo Brasil são o resultado de uma ambição antiga. Em 1986, junto com
Argentina, Uruguai e 21 países africanos, o Brasil propôs a Zona de Paz e
Cooperação do Atlântico Sul. O objetivo não declarado era, assim como agora,
minimizar a interferência externa na região, especialmente da OTAN. O desejo de
manter “estrangeiros” longe do Atlântico Sul é motivado, em grande parte, por
interesses comerciais. O Brasil, em particular, quer proteger seus recursos
naturais na costa e em offshore, que a Marinha do Brasil chama de Amazônia
Azul. Esta área abriga extensas reservas de petróleo e gás, bem como concessões
de pesca e de mineração dentro e fora de suas atuais fronteiras marítimas. Para
os líderes brasileiros, preservar a influência sobre a Amazônia Azul é uma
questão de segurança nacional e de soberania. O programa PROMAR, da Marinha do
Brasil, promove campanhas de conscientização pública que exaltam a importância
econômica, ambiental e científica do Atlântico Sul. Para proteger as fronteiras
da Amazônia Azul, o Brasil está requerendo na Comissão da ONU sobre os Limites
da Plataforma Continental a extensão de sua zona econômica exclusiva, área que se
estende a 200 milhas náuticas da costa, em que um país tem direitos especiais
de exploração e utilização dos recursos marinhos. Para embasar a demanda, o
Brasil está criando um sofisticado sistema de vigilância e monitoramento da
Amazônia Azul. O chamado Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul pretende
digitalizar mais de 4.600 milhas de costa para navios militares e comerciais
estrangeiros através de uma combinação de satélites, radares, drones, navios de
guerra e submarinos. Em janeiro, o país escolheu três finalistas para
desenvolver o projeto de 4 bilhões de dólares: um consórcio liderado pelo
conglomerado aeroespacial Embraer, outro liderado pela empresa multinacional de
construção Odebrecht, e um terceiro pelo jovem grupo Orbital Engenharia. O exército
brasileiro também está construindo um sistema multibilionário para
monitoramento e vigilância das fronteiras. Os dois programas podem,
eventualmente, ser integrados. Rumo à África Na África, a influência do Brasil
vai muito além dos seis países de língua portuguesa do continente. As trocas
comerciais totais com países africanos pularam de cerca de 4,3 bilhões dólares,
em 2000, para 28,5 bilhões de dólares em 2013. Não surpreende que os acordos de
segurança entre o Brasil e a África sejam motivados, em grande medida, pelo
desejo de expandir oportunidades de negócios para empresas brasileiras de
defesa. Em 1994, por exemplo, o Brasil assinou um acordo de cooperação de
defesa com a Namíbia; hoje, o Brasil é o principal fornecedor e parceiro de
treinamentos da Marinha da Namíbia. Em 2001, o Brasil garantiu sua presença na
África Meridional ao abrir uma missão naval em Walvis Bay, o maior porto
comercial e único porto de águas profundas da Namíbia. A Namíbia foi só a
primeira. O Brasil também assinou acordos de cooperação de defesa com Cabo
Verde (1994), África do Sul (2003), Guiné Bissau (2006), Moçambique (2009),
Nigéria (2010), Senegal (2010), Angola (2010), e Guiné Equatorial (2010 e
2013). Após exercícios conjuntos com a Marinha de Benin, Cabo Verde, Nigéria e
São Tomé e Príncipe, em 2012, e exercícios adicionais com Angola, Mauritânia,
Namíbia e Senegal, no ano seguinte o Brasil implantou outra missão naval
brasileira, em Cabo Verde.
Enquanto isso, está
atualmente em revisão um acordo de cooperação de defesa com o Mali, e o
Ministério da Defesa do Brasil anunciou ter planos de criar ainda este ano uma
terceira missão naval, em São Tomé e Príncipe. O Brasil também está fornecendo
à África treinamento militar, aéreo, e naval. Entre 2003 e 2013, a Escola Naval
e a Escola de Guerra Naval treinaram cerca de dois mil oficiais militares da
Namíbia. A Força Aérea Brasileira tem dado suporte a pilotos de Angola, Guiné Bissau
e Moçambique. E desde 2009, a Agência Brasileira de Cooperação tem uma parceria
com o Ministério da Defesa, com orçamento aproximado de 3,2 milhões de dólares
entre 2009 e 2013, para programas de formação de militares africanos. A
enxurrada de acordos de cooperação é um forte estímulo para os empresários do
setor de defesa brasileiros fazerem negócios na África. Empresas públicas e
privadas estão fazendo fila pelas oportunidades, assim como organizações de
comércio como a Associação Brasileira de Indústrias de Materiais de Defesa e
Segurança, Com defesa, e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e
Investimentos. Os fabricantes brasileiros de armas redobraram esforços para
alinhar o desenvolvimento de armas e canais de produção de tecnologia com a
demanda africana. A Embraer, por exemplo, intermediou vários acordos para
vender suas aeronaves Super Tucano A29, além de programas de treinamento e
assistência técnica. A empresa assinou contratos com Angola, Burkina Faso e
Mauritânia no valor de mais de 180 milhões de dólares no total. Da mesma forma,
Gana, Mali e Senegal assinaram acordos de compra ou manifestaram a intenção de
comprar Super Tucanos da Embraer. Estes acordos são insignificantes se
comparados aos feitos pela empresa com Estados Unidos, Suécia, e Emirados
Árabes Unidos, mas eles são significativos uma vez que eles representam um aprofundamento
das relações com o Brasil. O Brasil também está faturando em feiras
internacionais de armamentos, e alguns de seus principais clientes estão na
África. O país exportou mais de 70 milhões de dólares em armas de pequeno porte
e munição para 28 países africanos entre 2000 e 2013, de acordo com os últimos
dados disponíveis da ONU. A Argélia encabeça a lista de clientes de armas de
pequeno porte e munição made in Brazil, com gastos de mais de 23 milhões de
dólares. Depois da Argélia vêm Botswana, África do Sul, Quênia e Angola. Feiras
de armas representam oportunidades importantes para o Brasil aprofundar a
cooperação Sul-Sul com a África. Na edição de 2013 da LAAD (Latin America
Aerospace and Defense Fair), a maior da região, , ao longo de três dias, o
ministro da Defesa do Brasil reuniu-se com 14 ministros ou vice ministros de
países africanos e latino americanos. Tais fatos confirmam que o Brasil está
endurecendo seu soft power no Atlântico Sul. Neste processo, sua movimentação
na África sinaliza que o Brasil tem hoje um papel relevante no cenário mundial.
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