Os golpistas do Paraguai censuram, demitem jornalistas e fecham rádios comunitárias com a cumplicidade da mesma mídia – local e mundial – que adora clamar cinicamente por “liberdade de expressão”. Nesta semana, a Federação Internacional dos Jornalistas (FIP) divulgou nota denunciando que “os trabalhadores da imprensa sofrem ameaças em seus postos de trabalho em função das opiniões que assumem publicamente” e que “o temor de perder o emprego opera mais forte do que a pior das censuras”.
Segundo
Vicente Páez, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas do
Paraguai, “os meios de comunicação privados reduziram os espaços
dedicados às mobilizações contra a ruptura da ordem democrática”.
Notícias sobre protestos em várias partes do país são censuradas
e o governo e a mídia golpista vendem a imagem de que reina a paz.
Já antes do golpe, a imprensa tentou criar um clima de pânico na
sociedade. “As corporações midiáticas expressaram sua
complacência com a destituição de Lugo”, afirma Páez.
Por sua
vez, Alcides Villamayor, representante da Associação Mundial de
Rádios Comunitárias (Amarc) no Paraguai, tem alertado que para o
risco de um “cerco legal” contra estas emissoras. Em recente
entrevista, Carlos Gómez Zelada, novo chefe da Comissão Nacional de
Telecomunicações, anunciou que “200 rádios perderão as suas
concessões”. Villamayor, que também é dirigente da Associação
Paraguai de Comunicação Comunitária, garante que a liberdade de
expressão está em perigo no país.
Um dos
alvos principais dos trogloditas que usurparam o poder é a TV
Pública do Paraguai. No mesmo dia da deposição de Lugo, em 22 de
junho, Christian Vázquez, jagunço dos golpistas, visitou a sede da
emissora, em Assunção, e exigiu que fosse tirado do ar o programa
“Micrófono Abierto”. Ele não obteve êxito porque os
trabalhadores resistiram.
Gustavo
Granero, vice-presidente da FIP, lembra que, além das constantes
ameaças à TV Pública, a Rádio Nacional do Paraguai também deixou
de exibir a sua programação habitual. Programas de organizações
sociais, como a dos jovens e a dos migrantes no exterior, foram
tirados do ar. Para ele, “é muito preocupante o que ocorre no
Paraguai”. Governo e empresários censuram e a mídia monopolizada
tornou-se o principal partido dos golpistas. Ele alerta para a
urgência da solidariedade internacional.
Para o
jornalista Washington Uranga, do diário argentino Página 12, não
há mais liberdade de expressão no Paraguai. “Dezenas de
repórteres, comunicadores sociais e produtores estão sendo
demitidos da Rádio Nacional, da Televisão Pública, da agência de
notícias oficial IP Paraguay e da Secretaria de Informação e
Comunicação (Sicom). As demissões, sem causa justificada,
apoiam-se em argumentos ideológicos e políticos. Além disso, os
correios eletrônicos de muitos jornalistas sofreram inexplicável
bloqueio”.
Com a
perseguição aos meios públicos e comunitários de comunicação, a
única voz que impera é a dos barões da mídia privada. “Os
diários de maior circulação no país, ABC Color e Ultima Hora,
foram permanentes instigadores do julgamento político contra Lugo e
suas páginas justificam o golpe institucional. ABC pertence ao grupo
Zuccolillo, tradicional aliado do Partido Colorado, que patrocinou o
golpe e aspira chegar ao poder nas eleições de abril do próximo
ano. Ultima Hora é do grupo Vierce, dono também da Telefuturo, La
Tele e de dez rádios espalhadas por todo o país. Todos estes
veículos atacaram, de maneira infundada, a Lugo”.
Diante
deste quadro dramático, nenhuma corporação midiática – do
Paraguai, do Brasil, dos EUA e da maior parte do mundo – condena os
atentados à democracia e à liberdade de expressão. Os “calunistas” amestrados da TV Globo, Veja, Estadão e Folha não se pronunciam sobre a censura, a demissão de
jornalistas e o fechamento das rádios comunitários. São uns
hipócritas!
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