Até seis
tremores de terra são registrados mensalmente no Brasil. Esse número
deve aumentar ainda mais nos próximos anos. A previsão não se
baseia na movimentação das placas tectônicas, mas na de diversas
instituições de pesquisa. A Rede Sismográfica Integrada do Brasil
(BraSIS) está implantando 60 estações sismográficas no País. Com
a elevação do monitoramento, abalos que antes passavam
despercebidos poderão ser computados.
Embora
não disponha ainda de uma estrutura completa, o Brasil ampliou o
número de estações sismográficas nos últimos anos. Atualmente, o
Observatório Sismológico (Obsis) da Universidade de Brasília
(UnB), o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
(IAG) da Universidade de São Paulo (USP) e o Laboratório de
Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) são
os principais institutos que registram eventos sísmicos no País.
Projeto
BraSIS iniciado em 2010 é audacioso: pretende monitorar a atividade
sísmica em todo o território nacional, possibilitar a localização
de epicentros e determinar as magnitudes dos sismos em tempo real.
Para isso, o projeto prevê a instalação de 60 estações no País,
em uma rede integrada por diversas instituições, como o IAG/USP,
UFRN, UnB e o ON-MCT (Observatório Nacional do Ministério da
Ciência e Tecnologia), com apoio de infraestrutura da Rede Temática
de Geotectônica da Petrobrás (RGEOTEC).
A
subchefe do Observatório Sismológico, Mônica von Huelsen, explica
que, nos últimos quatro anos, o instituto verificou, em média,
cerca de 30 eventos por ano, considerando magnitude maior que 1,7.
Segundo ela, com o avanço da instalação da rede sismográfica
brasileira, o número de abalos registrados, principalmente de baixa
magnitude, deve crescer ainda mais. “Não é a quantidade de
tremores que vai aumentar, e sim o número de registros”, reforça
o técnico em sismologia da USP Bruno Collaço.
Falhas
geológicas – Conforme Tereza Higashi, colaboradora de sismologia
do Departamento de Geofísica do IAG/USP, a localização do Brasil,
no centro da Placa Sul-Americana, torna o país menos propenso a
apresentar tremores com frequência e magnitudes tão grandes quanto
países como Chile, Peru, Itália, Japão e outros localizados nas
bordas de placas litosféricas. “Os tremores que ocorrem no Brasil
têm origem em falhas geológicas. Não são terremotos de origem
tectônica, mais fortes, que ocorrem ao longo das placas”,
esclarece Leite. Os sismos ocorrem com mais frequência no Nordeste,
na região Central e no Sudeste do país, com magnitudes em geral
muito baixas.
Mais
terremotos? – Nos últimos anos, grandes terremotos no Haiti, na
Turquia, no Chile e em outros países acarretaram desconfiança de
que a incidência dos sismos estivesse crescendo em todo o mundo.
Mais de 320 mil pessoas morreram em decorrência de abalos sísmicos
apenas no ano de 2010, por exemplo.
O Centro
Nacional de Informações sobre Terremotos dos Estados Unidos (NEIC,
na sigla em inglês) registra uma média anual de 20 mil terremotos
entre 1990 e 2012. O órgão prevê, a cada ano, a ocorrência de 17
terremotos grandes (de 7 a 7,9 pontos na escala Richter) e um
terremoto catastrófico (a partir de 8 pontos na escala Richter).
Maior
monitoramento – Assim como no Brasil, a explicação para o
aparente aumento da incidência de tremores pode residir na elevação
do monitoramento. De acordo com o USGS, o número de estações de
detecção em 1931 era de 350 em todo o planeta. Atualmente, há mais
de 8 mil delas, com maior poder de precisão e transmissão de dados.
Embora o número registrado de sismos menores tenha aumentado, o
número de grandes temores se mantém estável, com picos ocasionais.
“O número de abalos mais fortes, acima de 6 magnitudes, parece
constante e dentro da média”, afirma Leite.
Percepção
– Tereza elenca outros fatores que reforçam a impressão de que os
terremotos estão se multiplicando. Um deles é a facilidade de
acesso aos meios de comunicação. “Muita gente pensa que os
tsunamis começaram com aquele de 2004, provocado pelo terremoto
ocorrido na Sumatra. Entretanto, tsunamis são conhecidos há muitos
séculos, especialmente no Japão, onde os danos são sempre
grandes”, esclarece.
Outro
fator, segundo ela, constitui-se do número crescente de mortes
decorrentes de abalos sísmicos. O incremento da densidade
populacional pode ser um dos culpados. Hoje um terremoto tem mais
chance de atingir seres humanos do que há anos atrás. Como os
sismos de maior magnitude destroem as estruturas físicas que abrigam
e cercam as pessoas, a falta de espaço para fugir em um evento como
esse pode ser fatal.
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