domingo, 24 de fevereiro de 2013

5 broken cameras


Um trabalho extraordinário de ativismo tanto cinematográfica e política, 5 Broken Camera, cuja tradução seria: 5 CAMERAS QUEBRADAS, é profundamente pessoal, conta em primeira mão da resistência não-violenta em Bil’In, uma aldeia Banco Oeste ameaçada pela invasão dos assentamentos israelenses. Filmado quase inteiramente por agricultor palestino o diretor Emad Burnat, que comprou sua primeira câmera em 2005 para gravar o nascimento de seu filho mais novo, o filme foi dado mais tarde a Israel  pelo co-diretor Guy Davidi para editá-lo. Estruturado em torno da destruição violenta de cada uma das câmeras Burnat, a colaboração dos cineastas segue a evolução de uma família ao longo de cinco anos de turbulência na aldeia. Burnat de trás da lente em meio aos conflitos de guerra, ele dizia: "Eu sinto que a câmera me protege", diz ele, "mas é uma ilusão." ‘Cinco Câmeras Quebradas’ mostra o fim da infância dos envolvidos nos conflitos entre Palestina e Israel.
Com imagens desfocadas de pessoas correndo, Emad dá início ao longa explicando por que começou a filmar. “As feridas do passado não têm tempo para se curar. As novas as cobrem. Então, eu filmo para guardá-las em minha memória.” Além de cinegrafista, o palestino virou também personagem do filme, uma vez que registra o que acontece à sua comunidade, à sua família e a ele mesmo.
Ao mesmo tempo em que sua primeira câmera, adquirida em 2005, filmava o nascimento do filho, ela capturava imagens do início da ocupação israelense no local, como a construção de um muro entre a vila e o assentamento judeu. A criação do menino e suas reações diante dos protestos intensos, os conflitos com os soldados israelenses e as prisões e acidentes de Emad e seus amigos dão o tom do documentário, que vai do otimista ao desesperançoso.
Como demonstração de desesperança, estão as imagens em que moradores de Bil’In vão em direção ao muro gritando contra a sua construção e pedindo a saída dos israelenses, e são recebidos pelos soldados judeus com bombas de gás lacrimogêneo, tiros e prisões. Durante as filmagens, amigos do agricultor foram atingidos, presos ou mortos e suas câmeras foram quebradas por tiros ou bombas.
Perda da infância – Toda a comunidade se envolve com os protestos pela terra, inclusive as crianças. Mais do que falar sobre o conflito político, a narrativa do filme aborda a perda da infância dos moradores da região. Emad acredita que os filhos devem virar homens duros e corajosos, como ele. Por isso, leva-os para os protestos, para vê-los com os próprios olhos desde novos.
Apesar de ter tido infância diferente, seus filhos já nasceram em anos de eventos marcantes como o Acordo de Paz de Oslo, em 1995, a Segunda Intifada, em 2000, e o início dos protestos contra o assentamento, em 2005. No documentário, o momento em que o fim da inocência das crianças é posto em palavras é quando Gibreel, com apenas cinco anos, pergunta ao pai por que ele não mata com uma faca os soldados israelenses, depois de eles terem matado um amigo seu. "Eles atirariam em mim", responde Emad.

Mesmo com as câmeras durando menos de um ano, Emad não interrompeu as filmagens, que continuam até hoje. O único pedido para que ele parasse de gravar foi feito por sua mulher, Soraya. Temerosa do futuro dos filhos, dela mesma e do marido, que havia sofrido um grave acidente de carro e sido preso por semanas em Israel, ela pediu para que ele não fosse mais aos protestos.


Emad Burnat, diretor de ‘5 Broken Cameras’ (5 câmeras quebradas), filme indicado ao Oscar de melhor documentário estrangeiro, foi detido na noite de 19 de fevereiro ao desembarcar no aeroporto de Los Angeles, Califórnia, para participar da festa do cinema de Hollywood. Ele, a esposa Soraya e o filho Gibril, de 8 anos – que também participam do filme –, foram levados para uma área fechada nas dependências do aeroporto e submetidos a interrogatório. Segundo as autoridades de imigração, Emad não tinha em seu poder o “convite apropriado para o Oscar”, seja lá o que isso for.
Emad enviou uma mensagem, pelo celular, a Michael Moore, o polêmico documentarista de ‘Tiros em Colombine’, ‘Fahrenheit 11 de setembro’ (filme que questiona a versão oficial do atentado ao World Trade Center) e um dos diretores da Academia de Hollywood. Moore denunciou a detenção a seus 1,4 milhão de seguidores no Twitter e acionou o pessoal da Academia, que por sua vez contatou advogados para cuidar do caso. “Pedi a Emad que repetisse meu nome várias vezes aos oficiais da imigração e que lhes desse meus números de telefone”, disse Moore. “Parece que eles não conseguiam entender como um palestino podia ter sido indicado ao Oscar”, completou, irônico.

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