O
aumento dos casos de violência que envolvem, de um lado, latifundiários e
grileiros e, de outro lado, lideranças e povos indígenas do Brasil, apontam
para um novo genocídio. É o que denuncia o Conselho Indigenista Missionário
(Cimi), um órgão ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
De
acordo com o relatório sobre a violência que atinge os povos indígenas, somente
entre 2003 e 2011 foram assassinados 503 índios, dos quais 273 são do povo
Guarani Kaiowá. Os índios Kaiowá chegaram a publicar uma carta que foi
traduzida e divulgada em todo o mundo:
“Sabemos
que seremos expulsos daqui da margem do rio pela justiça, porém não vamos sair
da margem do rio. Como um povo nativo e indígena histórico, decidimos em ser
mortos coletivamente aqui. Não temos outra opção: esta é a ultima decisão unânime
diante do despache da Justiça”.
“Se
for para a gente se entregar
– afirma a carta – nós não nos entregaremos fácil. É por causa da terra que estamos aqui;
nós estamos unidos com o mesmo sentimento e com a mesma palavra para morrermos
na nossa terra. Esta terra é nossa mesma! Os brancos querem nos atacar. Por
isso nós dizemos: morreremos pela terra! Mas a ideia da gente se matar, ou se
suicidar, nós não iremos fazer. Nós morreremos, se os fazendeiros nos atacarem.
Aí poderemos morrer!”.
Processos
O
município de Aral Moreira, no sul do Mato Grosso do Sul, lidera as estatísticas
oficiais da violência contra os indígenas; nela, vivem 43 mil indígenas Guarani
Kaiowá. Dos 43 mil, 32 mil vivem nessa área. A Justiça do Mato Grosso do Sul já
examina mais de 100 processos que tratam da violência que envolvem os índios e
os grandes fazendeiros. Entre os Kaiowá mortos, entre 2000 e 2011, 555 Guarani
Kaiowá suicidaram-se. A grande maioria enforcou-se.
De
acordo com o CIMI, os conflitos pela terra, desde os anos 70, vêm representando
um verdadeiro extermínio, com muitos indígenas feridos, torturados e humilhados
pelos grandes latifundiários. Muitos índios tiveram que deixar sua condição de
povos indígenas, para se tornarem “caboclos”, o que vem gerando a perda de territórios,
para a criação dos seringais e sobretudo, a perda da identidade do povo
indígena e de sua dignidade. Apesar dos crimes por encomenda, praticados por
fazendeiros contra os Guarani Kaiowá, denuncia o CIMI, nenhum não-indígena
cumpre pena de prisão por ter matado um índio, mesmo com provas contundentes,
ou testemunhas idôneas e réus confessos.
Numa
ação clandestina conta a comunidade indígena Guaiviry, no município de Aral
Moreira, no Mato Grosso do Sul em 18 de novembro de 2011, os fazendeiros orientaram
os capangas para chegarem atirando, a começar contra as crianças, jovens e
pessoas idosas. Na invasão da terra indígena, foram utilizadas seis armas
calibre 12 com balas de borracha e moedas. De acordo com a Policia Federal, as
moedas usadas nos canos das armas ferem mais, têm mais impacto e são mais
letais.
Em
reação a esse quadro de genocídio, as redes sociais da internet criaram a
campanha “Somos todos Guarani Kaiowá”. Nessa iniciativa solidária, no Facebook,
os internautas acrescentaram o nome do povo Guarani Kaiowá ao seu próprio
sobrenome.
https://www.facebook.com/todosguaranikaiowa
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