Cúpula
da União Europeia limitou-se a manifestar preocupação com espionagem dos
Estados Unidos. Única medida forte até agora partiu do governo do Brasil. (Agência
Brasil)
Os
europeus por pouco se enojaram dos Estados Unidos, mas no final se acalmaram.
Os espiões de Washington podem dormir tranquilos. As galinhas põem ovos, a
União Europeia um punhado de palavras onde fica retratada sua assombrosa,
pusilânime e temerosa posição ante os Estados Unidos. Os serviços de
inteligência norte-americanos interceptaram na França mais de 70 milhões de
comunicações entre dezembro e janeiro de 2013, grampearam o telefone celular da
chanceler alemã Angela Merkel, além de outras incontáveis interceptações de
todos os tipos de que foram alvo os demais membros da União Europeia.
No
entanto, ao final da cúpula realizada em Bruxelas entre os 28 chefes de Estado
e o governo da UE não saiu mais do que uma “preocupação” e uma proposta
franco-alemã para negociar, no prazo de um ano, um acordo de boa conduta e de
cooperação entre os serviços de inteligência norte-americanos, franceses e
alemães. Os demais países da UE que quiserem poderão se somar à iniciativa. A
chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande,
foram os mais firmes em suas posições. Ao lado do silêncio e da covardia dos
outros membros do grupo, Hollande e Merkel tinham uma auréola de subversivos.
“A
confiança foi seriamente danificada e precisa ser reconstruída”, disse a
chanceler alemã quando começou a cúpula. Paris e Berlim haviam anunciado uma
iniciativa conjunta para acabar com a espionagem e esta se plasmou agora na
proposta de uma negociação. O presidente francês, François Hollande, explicou
que se trata de “estabelecer regras para o futuro”. Esta linha consensual não
impediu que ele se dirigisse com dureza aos norte-americanos: “Há
comportamentos e práticas que são inaceitáveis”, disse Hollande. Diferentemente
de outros dirigentes - como David
Cameron, primeiro ministro da Grã-Bretanha -, Hollande julgou que as revelações
feitas pelo ex-agente da NSA, eram “úteis”. Merkel, por sua vez, destacou que
“enterramos juntos nossos soldados no Afeganistão. Não é possível que tenhamos
que nos preocupar que nossos aliados nos espionem”.
Para
além do abundante palavrório, a estratégia consiste em aplacar as tensões e
evitar o confronto. Para aqueles que pediam uma reação mais forte e medidas de
retaliação contra Washington, Hollande respondeu: “não se trata de criar mais
problemas do que os que já existem, mas sim de resolver problemas”. No
princípio da crise desatada pela espionagem, o presidente francês esteve a
favor de que se suspendesse o início das negociações sobre um acordo de livre
comércio entre a UE e os Estados Unidos. Seus parceiros europeus não o
respaldaram. A crise cresceu de magnitude com as sucessivas revelações ao mesmo
tempo em que os europeus se escondiam e baixavam o tom.
O
enfoque dos 28 euro-dirigentes deixa as coisas como estavam. A declaração da
cúpula é de uma prosa infantil e medrosa onde se ressalta “as grandes
preocupações que a espionagem suscita na população europeia”. Que ousadia, que
valentia verbal! O Big Brother deve estar tremendo de rir. O problema, contudo,
é enorme. Ninguém conta com os elementos para se opor à superpotência
norte-americana, nem política nem
tecnologicamente. Éric Denécé, diretor do centro de investigações sobre
a inteligência (dos serviços secretos), CFR2, resumiu ao semanário Le Point o
paradoxo desta situação de dominador-dominado: “ninguém tem os meios de
controlar as atividades de espionagem dos EUA. Se os norte-americanos quiserem
seguindo ser a primeira potência mundial e manter um avanço considerável em
relação aos demais, seguirão mantendo essa prática”.
A
única medida forte tomada até agora e a única proposta global que existe
partiram da presidenta do Brasil, Dilma Rousseff. A mandatária anulou sua
visita oficial aos Estados Unidos quando se descobriu que Washington espionava
a Petrobras e suas próprias comunicações. Na quinta-feira, Dilma propôs a
organização de um fórum mundial para regulamentar o uso da internet e evitar a
espionagem. O fórum poderia ser realizado no Brasil, em abril de 2014. Os
norte-americanos certamente estarão na primeira fila do encontro. Com tanta
gente importante reunida em um mesmo momento e lugar, usando internet e
celulares ao mesmo tempo, há muito o quê espionar para seguir dominando o
mundo.
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