Comissão da Verdade pressupõe a existência de documentos. Qual é o sentido deste segredo eterno? (Vito Giannotti – Correio do Brasil).
Diziam nossas avós: quem não deve, não teme. Se não tenho crime nenhum no cartório, vou querer incendiar o cartório, por que? Vamos perguntar a nossas avós. Nesse mês de junho estamos vendo muita gente temer a abertura dos arquivos da história do Brasil. Os porta-vozes deste bloco são dois sujeitos altissimamente conhecidos por seus gloriosos serviços ao país: nada menos que José Sarney e Fernando Collor. Mas atrás do biombo deles há muito mais gente.
Alguém imagina que o empresário torturador e matador de comunistas, durante a ditadura militar, o cidadão Boilesen, presidente da Ultragás, foi o único entre seus pares? Quantos outros empresários agiram igual a ele? O estudioso e escritor René Dreifuss, em seu o livro 1964 – A conquista do Estado, nos dá um monte de nomes de sujeitos iguais a este senhor. Um deste é o presidente da Fiesp, Teobaldo de Nigris, que em 1969 fez pessoalmente uma caixinha para recolher dinheiro para montar o centro de tortura e assassinatos, a Operação Bandeirantes (Oban).
Quantos senhores donos de canais de televisão ou estações de rádio, ou de comércios, jornais, revistas e bancos faziam parte desta corriola? Só os militares deram o golpe cívico-militar, em 1964? E os civis? Cadê a documentação? É preciso o segredo eterno mesmo!
Pelo Projeto de Lei 41 defendido pelos dois nobres expresidentes, nem Cristo vai saber nunca! Tem que garantir o silêncio eterno. Documentos ultrassecretos até o fim do mundo. E assim, militares e civis, célebres torturados e assassinos da ditadura de 1964 e da Operação Condor estarão livres e soltos.
Comissão da Verdade pressupõe a existência de documentos. Qual é o sentido deste segredo eterno? As alegações são a tal da segurança nacional, fronteiras e coisa e tal. Belas desculpas esfarrapadas. Será que o povo brasileiro não quer ver os documentos sobre o helicóptero que caiu, em 1992, com dois pesos-pesados da política, nacionalistas que não se afinavam com o neoliberalismo imperante: Ulisses Guimarães e Severo Gomes? E a morte de Tancredo? Muito mineiro conta e acredita em cada história! E cadê a documentação? Mas nossos Sarneys e Collors estão em campanha pelo silêncio até o fim dos tempos. Qual outro país tem este mecanismo de acabar com sua história? Bom, nós temos o antecedente de Rui Barbosa com os documentos sobre a escravidão, segundo nos contam para evitar a busca de indenização por ex-senhores de escravos, com base nos registros.
Se o governo não jogar todo seu peso para esmagar esta campanha de seus queridos aliados, estaremos voltando atrás um século no caminho da cidadania.
Depois nós criticamos os Argentinos, leia uma matéria antiga neste blog sobre Direitos Humanos, vejam que nesta questão a Argentina está bem á frente.