Em 2012 este projeto de
integração completou 21 anos, marcado por limites e contradições; mas, também,
exibindo avanços em diversos campos. Desde 2003, a partir da assunção de
governos de esquerda e progressistas na região, notadamente sob a liderança
inicial de Kirchner e Lula, a fisionomia do Mercosul vem sendo transformada.
O comércio intra-bloco
passou de 4,5 para 50 bilhões de dólares anuais; foi criado um Parlamento
próprio; 100 milhões de dólares ao ano são aplicados pelo FOCEM (Fundo de
Convergência Estrutural do Mercosul]) a fundo perdido na execução de
investimentos sociais e de infraestrutura para diminuir as assimetrias e
disparidades entre os países; está sendo implementado um Estatuto da Cidadania.
A entrada da Venezuela
significa o aprofundamento desta transformação, e coloca o Mercosul em um novo
estágio. O bloco fica ampliado nas dimensões econômicas, comerciais, culturais
e demográficas. Territorialmente, incorpora mais de 900 mil quilômetros
quadrados. Consolida a jurisdição e o domínio sobre as maiores reservas
energéticas, minerais, naturais e de recursos hídricos do planeta. Seguramente deverá
ter maior protagonismo no jogo geopolítico internacional.
A ampliação do Mercosul
naturalmente será acompanhada de dificuldades, mas também de inúmeras
conveniências. Contribui para maior coesão da região, para a estabilidade
democrática, para a diminuição de conflitos e aumenta a segurança e a
capacidade de defesa. A maior integração também conforma um ambiente
comunitário mais favorável à adoção de estratégias comuns de desenvolvimento,
aproveitando o mercado regional de massas incrementado em 29 milhões de pessoas
e um comércio intraregional de produtos manufaturados com maior valor agregado.
A partir de agora, o Mercosul passa a ser a região do globo com a maior reserva
mundial de petróleo, adquirindo maior poder de influência na definição das políticas
energéticas no mundo.
Desde a assinatura do
Tratado de Assunção em 1991, dois acontecimentos marcaram uma inflexão
geopolítica e estratégica do Mercosul numa perspectiva pós-neoliberal. O
primeiro deles foi o sepultamento, em 2005, da Área de Livre Comércio das
Américas, a ALCA, que representava uma perigosa ameaça à soberania, ao
desenvolvimento e à independência dos países do hemisfério. O segundo
acontecimento marcante está se dando justo neste momento, com o ingresso pleno
da Venezuela no Bloco, inaugurando o que se poderia considerar como a segunda
geração do MERCOSUL e do processo de integração regional.
A América do Sul foi
historicamente prejudicada pelas grandes potências - especialmente pelos
Estados Unidos - que preferem nosso rico e promissor continente dividido – ou
desunido – a um continente integrado e capaz de construir soberanamente seu
destino. Esta realidade faz compreender as razões do conservadorismo que
combate - por vezes de forma irascível - o ingresso da Venezuela no Mercosul e
o fortalecimento dos laços regionais de amizade, de harmonia e de integração.
O crescimento do
Mercosul poderá ser fator de estímulo para o ingresso de outros países nesta
comunidade, que já examina com o Equador as condições para sua adesão. A unidade
regional, que já é física devido à contiguidade territorial, poderá assumir
características de uma integração mais avançada, abrangendo tanto aspectos
comerciais e econômicos, como sociais, culturais e políticos. Isto propiciará
um melhor posicionamento estratégico e geopolítico da região no mundo, o que
será benéfico para cada país individualmente e para o conjunto das nações no
enfrentamento dos problemas e na defesa de interesses que são comuns a elas.
O Mercosul altivo e
motorizando o fortalecimento da América do Sul é a melhor contribuição que o
continente pode dar à paz e à igualdade no mundo. Constitui uma resposta
eficiente à prolongada crise do capitalismo mundial, protegendo as conquistas
sociais e econômicas logradas na última década pelos atuais Governos da região
dos avanços da sanha neoliberal que na Europa trata do desmonte do Estado de
Bem-Estar social em nome da austeridade fiscal e da proteção dos interesses da
especulação financeira.
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