domingo, 31 de março de 2013

O que acontece no Chipre e por quê?


A grande maioria das pessoas se espantou quando ficou conhecido que a Troika (Comissão Europeia, Banco Cental Europeu e o FMI) acabara de ceder um empréstimo ao Chipre com a condição de privatizar serviços públicos e diminuir gastos e de estabelecer um imposto de 9,9% (como se fosse oferta de um supermercado) para depósitos acima de 100 mil euros e de 6,75% para os menores.
Quando os cipriotas saíram correndo para os caixas eletrônicos para tirar seu dinheiro, viram-se impedidos de sacar a quantidade correspondente a este imposto, assim se estabeleceu um cerco de pura apreensão. E, como sempre acontecem essas coisas, sem que haja qualquer deliberação por parte do parlamento, que é onde se supõe estar funcionando a soberania popular que julga as grandes decisões nas sociedades que se chamam democráticas.
O Chipre é uma das menores economias da União Europeia (seus depósitos bancários representam mais ou menos 0,2% do todo) e é um país pouco conhecido pelos europeus, exceto por sua tradicional oferta turística. Mas agora convém saber algo mais sobre este país, porque o que lhe ocorre hoje pode acontecer em pouco tempo com as maiores economias da Europa.
Uma brevíssima história
Chipre manteve desde os anos noventa uma economia modesta e relativamente saudável graças ao turismo. Contudo, entre 2001 e 2008 seu PIB cresceu uma média de 3,7%, bem maior que a da maioria dos países da Europa, enquanto sua dívida mantinha-se baixa, sem sequer alcançar, quando se estalou a crise, os 60% exigidos pela UE.
Mas a partir de 2010-2011 as coisas se complicaram para governo cipriota, as agências de risco rebaixaram a nota do Chipre e em 26 de junho de 2012 o governo solicitou formalmente ajuda à UE. O que tinha passado nestes anos de crescimento e as razões da queda são muito parecidas com o que ocorreu noutros lugares da Europa.
O Chipre entrou para o bloco do euro em 2007, mas tinha já vinculado sua moeda com o euro desde antes. Isso permitiu ao país ter juros baixos, ao mesmo tempo em que oferecia impostos vantajosos (na realidade, comportava-se como um autêntico paraíso fiscal). Registrou, assim, grandes entradas de capital que permitiram seu grande crescimento. Muitas destas entradas (algumas estimativas dizem entre 30 e 40% do total de depósitos) são provenientes dos oligarcas russos que lavavam seu dinheiro no país, do Reino Unido e inclusive (quando a crise eclodiu) da Grécia.
Os bancos canalizaram a entrada desta grande quantidade de liquidez e a puseram, em sua maior parte, no financiamento de uma bolha imobiliária muito parecida com a da Espanha. A partir de 2008-2009 compraram grandes volumes da dívida grega, muito rentável pela pressão que os mercados exerciam sobre o país heleno (os bancos cipriotas dedicaram ao país o equivalente a 25% do PIB do Chipre).
Os economistas neoliberais, e entre eles as autoridades europeias, consideraram nos anos de bonança que um setor bancário superdesenvolvido e impostos bastante reduzidos eram uma grande virtude da economia cipriota (o mesmo que diziam da Irlanda). A realidade se encarregou de pôr tal sabedoria em seu devido lugar: quando em 2011 realizou-se uma revisão da dívida grega (como será inevitável que aconteça noutros países), os bancos do Chipre quebraram. E os baixos impostos traduziram-se em um maior incremento da dívida e em quase nula a capacidade de manobra quando a dinâmica se viu travada e os gastos públicos tiveram de elevar-se (entre outras coisas, porque o desemprego disparou).
Em meio tudo isso, não se pode esquecer que também tiveram (assim como em outros países europeus e também na Espanha) um banco central dirigido por cúmplices dos banqueiros que nada disseram quando o desastre ainda estava em germe.
A intervenção
Agora, com já ocorreu noutros países, os bancos quebrados levam consigo todo o resto da economia. É normal. Já dissemos muitas vezes: o financiamento é como o sangue da economia e, sem ele, a atividade econômica morre sem remédio. É verdade que deixar os bancos caírem sem alternativa de financiamento é suicida, mas não é menos suicida viver como zumbis que engolem todos os recursos que os dão.
Logo depois das mudanças, ganhou as eleições e entrou no governo o protegido da Merkel. A sorte estava lançada. Ainda que desta vez a Troika tenha ido mais além do que se esperava porque tomou uma decisão que se vende de nova, o castigo exemplar aos esbanjadores (agora na forma de mafiosos russos), mas que pode fazer com que o sistema bancário europeu exploda.
Resgatar um sistema morto, como o cipriota, significa mais ou menos duplicar a dívida pública do Estado (quase 150% do PIB). O empréstimo que dão ao Chipre, e que irá diretamente aos bancos, será de 10 bilhões de euros. Pouco para a União Europeia (lembremos que só a França e Alemanha gastaram oitenta vezes mais para resgatar seus bancos), mas é muito para o Chipre: quase metade de seu PIB.
O que equivale a dizer que será materialmente impossível que se possa pagar e muito menos possível com o plano de austeridade que aqui também se impõe. Terão de haver novos acordos mais adiante e, enquanto isso, cresce a miséria em um país que até agora tenta seguir adiante (ainda que, desde antes, poderia ter saído muito melhor se a UE não fosse cúmplice dos paraísos fiscais e não se tivesse firmado este modelo de financeirização neoliberal insustentável).
Mas isto, no caso do Chipre, não é tudo. Com a apreensão, tomada, de uma parte dos depósitos bancários, a UE revoga suas próprias normas e abre a torneira para que as pessoas acabem por retirar o quanto antes seu dinheiro dos bancos. Não só no Chipre, onde isto já está acontecendo, mas também em outros países. Veremos se não é agora que o paradoxo se expressará: de que tenha sido a própria Troika quem vai afundar também os bancos ao provocar que os contistas saquem seu dinheiro, já não mais somente por indignação, mas pela desconfiança que ela, Troika, mesma, provocou.
Claro que isto não será um desastre para todos. Já há muitos sites especializados que aconselham que os investidores europeus levem seu dinheiro para bancos na Alemanha, Holanda, Finlândia ou Luxemburgo. Seus bancos terão problemas.
Mais uma vez a Troika atua com falta de inteligência e imprudência imperdoáveis. Vão carregar por muitos anos o sistema bancário cipriota, ao tentar reviver um morto que não poderá levantar a cabeça. Afunda-se uma economia ao deixá-la sem financiamento, muito mais endividada que antes e sem recursos para pôr em marcha a atividade econômica. Empobrece-se por décadas uma população. O tanto que se diz atuar contra o dinheiro sujo dos russos, mas não se faz nada para acabar com os paraísos fiscais. É aí, neste desastre, que estão em germe as bases para que grandes grupos empresariais possam se fazer com a riqueza dos cipriotas, seus recursos naturais e serviços públicos. (Carta Maior).
Até quando?

MAIS. Brics criam grupo para organizar banco de desenvolvimento e podem adotar moeda local.


O Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul se empenharão para ter um banco de desenvolvimento específico para a região do Brics – formado pelos cinco países. Um grupo de trabalho, formado por técnicos das cinco nações, fará os estudos para organizar e montar a instituição financeira. Mas, antes de sua consolidação, a região vai negociar internamente com moedas locais.
As decisões foram definidas hoje (29) em declaração conjunta assinada pela presidenta Dilma Rousseff e pelos presidentes Dmitri Medvedev (Rússia), Hu Jintao (China) e Jacob Zuma (África do Sul), além do primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, no encerramento da 4ª Cúpula do Brics, em Nova Delhi (na Índia).
A presidenta disse que a criação do banco é “indício positivo”. Segundo ela, os países do Brics mostram que é possível crescer economicamente, distribuindo renda e gerando empregos. Ela elogiou a iniciativa conjunta de passar a adotar moedas locais nas negociações internas do bloco. “[Os países] Brics são um elemento dinâmico no comércio internacional”, disse.
A proposta de criação do banco de desenvolvimento do Brics foi apresentada pelo primeiro-ministro indiano. A ideia é que a nova instituição seja uma espécie de alternativa ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Os detalhes serão fixados pelo grupo de trabalho que organizará sua criação.
Para os negociadores brasileiros, o processo de criação do banco ocorrerá a longo prazo, pois será necessário definir uma série de aspectos, como os termos de referência, a estrutura do organismo, como será integralizado o capital e as práticas de comércio bilateral e multilateral.
Os indianos argumentam que o objetivo é estabelecer um mecanismo que permita o financiamento de projetos exclusivamente nos países em desenvolvimento. A presidência da instituição deve ser rotativa entre os cinco integrantes do Brics. Paralelamente, os líderes presentes aos debates deverão reiterar a defesa da ampliação do FMI

sábado, 23 de março de 2013

Presidente russo quer que Brics assumam maior papel na geopolítica.


A Rússia quer que o grupo Brics, formado pelas principais economias emergentes, incluindo o Brasil, amplie seu papel e se envolva mais na geopolítica, disse o presidente russo, Vladimir Putin.
Putin, que tem frequentemente criticado as atividades europeias e norte-americanas e que se juntou à parceira de bloco China no combate à influência ocidental, falou uma semana antes de uma cúpula do grupo, que também inclui Índia e África do Sul.
Ele afirmou à agência de notícias Itar-Tass que os membros dos Brics estavam trabalhando em declarações conjuntas sobre os conflitos na Síria e no Afeganistão, o programa nuclear do Irã, a situação no Oriente Médio e outras questões.
"Nós convidamos os nossos parceiros a transformar gradualmente os Brics de um fórum de diálogo que coordena abordagens a um número limitado de questões para um mecanismo de cooperação estratégica em grande escala que nos permitirá buscar soluções para questões de política global em conjunto", disse Putin, de acordo com uma transcrição do Kremlin da entrevista.
Os líderes dos Brics devem usar a cúpula de 26 e 27 de março em Durban, na África do Sul, para apoiar os planos de criar um fundo de reservas de moeda estrangeira e um banco de infraestrutura, disseram autoridades de mercados emergentes.
Putin, que quer mais investimento estrangeiro para reforçar a economia da Rússia, disse que seu país planeja anunciar a criação de um Conselho de Negócios dos Brics para promover comércio e investimentos dentro do grupo e ajudar a lançar projetos de negócios multilaterais.

O dia em que Roberto Marinho, Murdoch e Merval viraram parceiros.


Encontro ocorreu em setembro de 1995 e selou a ofensiva de Rupert Murdoch, dono da News Corporation e envolvido em escândalos no Reino Unido, sobre o mercado de tevê por assinatura no Brasil.

Os grandes conglomerados de mídia estão mais conectados do que se pode imaginar. E a histórica fotografia acima é um exemplo do qual não se deve esquecer.

A News Corporation, do empresário Rupert Murdoch, e a Globopar, holding das Organizações Globo, tornaram-se parceiros em 1995 para explorar o serviço de tevê via satélite no Brasil, através da Net Sat, operação então ligada à NET, que pertencia à Globo.

A proposta era introduzir tecnologia digital e o “pay-per-view” no país, além de facilitar a internacionalização da programação da tevê Globo nos Estados Unidos.

O acordo foi selado durante viagem de Murdoch ao Rio de Janeiro, quando ele visitou Roberto Marinho e outros altos executivos globais, como Merval Pereira, então diretor de redação do jornal ‘O Globo’.

O apetite de Murdoch pelo Brasil cresceu ainda mais em 2004, quando ele tornou-se majoritário na Sky, ao comprar parte das ações da Globo na empresa. Em seguida, trabalhou pela fusão da Sky com a Directv, então concorrentes. A Directv, com sede nos Estados Unidos, já pertencia a ele.

Em 2006, Murdoch vendeu sua participação na Directv ao grupo norte-americano Liberty Media, do empresário John Malone. Com isso, o empresário se afastou das operações de tevê no Brasil, reduzindo seus negócios aos canais Fox, distribuídos por várias operadoras.

Também as Organizações Globo se distanciaram das operações de tevê a cabo e satélite, se concentrando na produção de conteúdos. Isso ganhou força a partir de 2004, com a venda de parte da Net para o empresário mexicano Carlos Slim, dono da Embratel.

A legislação também se enrijeceu. A lei 12.485/2012, por exemplo, impede que empresas de radiodifusão tenham direta ou indiretamente mais de 50% do capital de empresas de telecomunicações. Hoje, a Globo mantém posição minoritária na Net e na Sky.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Discussões sobre o IDH do Brasil.


O Relatório de Desenvolvimento 2012, divulgado nesta quinta-feira (14/03) pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), aponta que o Brasil deve investir em "políticas educacionais ambiciosas" para mudar sua demografia.
Com o envelhecimento da população brasileira, o país deverá se preocupar com o aumento do número de pessoas economicamente dependentes (crianças e idosos) em relação à população ativa. Segundo o relatório da ONU, melhorias nos índices educacionais do país podem, entre outras coisas, reduzir mais a taxa de natalidade da população e, assim, desacelerar o crescimento da população dependente.
A mesma recomendação é feita para países como Bangladesh, Chile, China, Gana, Índia e Turquia.
Na 85ª posição do ranking, a média de escolaridade brasileira é de 7,2 anos. Nos países de elevado desenvolvimento, mesma classificação do Brasil, a média é de 8,8 anos, e nos países de muito elevado IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é de 11,5 anos.
Na comparação com outros países latino-americanos, o aluno brasileiro tem, em média, menos anos de estudo que o estudante mexicano (8,5 anos), colombiano (7,3 anos) ou a média do latino-americano (7,8 anos).
Entretanto, a expectativa de escolaridade do brasileiro é maior (14,2 anos): México (13,7 anos), Colômbia (13,6 anos) ou América Latina (13,9 anos). Em países de alto nível de IDH, a expectativa de escolaridade média é de 16,3 anos
Investimentos e resultados
Os investimentos em educação aumentaram. O valor passou de 4% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2000 para 5,7% do PIB, no período entre 2005 e 2010. O percentual é maior do que a média de investimentos de países com alto nível de IDH, que gastam 5,1% de seu PIB com educação.
No entanto, o desempenho dos alunos brasileiros em testes de leitura, matemática e ciência ainda está muito aquém do encontrado em países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os estudantes brasileiros de 15 anos conseguiram 412 pontos em testes de leitura, a média em países da OCDE é de 493 pontos. Em matemática, o pior desempenho, os brasileiros fizeram 386 pontos frente aos 495 pontos de estudantes em países da OCDE.
Divergência de dados
O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) questiona os dados usados pelo Pnud na composição do IDH. Em nota, o órgão afirma que "os dados utilizados no cálculo são defasados para o Brasil e diferenciados entre os países". Os dados utilizados foram de 2005.
"Além de usarem dados antigos, é importante ressaltar que há um problema de classificação", afirmou Luiz Cláudio Costa, presidente do Inep, "Em outros países, as crianças com cinco anos na escola estão consideradas. Como no Brasil usamos a classificação de pré-escola, que é a classe de alfabetização, há 1,8 milhão de crianças matriculadas que estão fora do índice". O ensino é obrigatório a partir dos 6 anos de idade no Brasil.
O Inep afirma também que a expectativa de escolaridade apontada pelo relatório não considera a mudança no currículo escolar do país, que passou de 8 anos de ensino fundamental para 9 anos. Assim, segundo o órgão, ficaram fora da conta outros 2,8 milhões de matrículas.
O órgão deve ter discussões técnicas com o Pnud para que sejam mudados os critérios em relação às pesquisas educacionais brasileiras. 
Apesar das discussões houve um crescimento de 24% no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Brasil está entre os 15 países que mais conseguiram reduzir o déficit no índice que mede o desenvolvimento humano de cada país.

sábado, 9 de março de 2013

As elites (e a mídia) brasileiras detestam Chávez.


Em uma rádio de grande audiência dedicada ao jornalismo, que vai ao ar no Rio e em São Paulo, todos os dias às 8h da manhã há uma sessão de humor. Quinta-feira, 7 de março, contaram piadas com muitas risadas sobre a morte do presidente venezuelano.
Esse é o tipo de jornalismo e humor que ofendem os bons humoristas e profissionais da comunicação. Duvido que fizessem essas piadas sobre a morte de seus milionários patrões que enriquecem no mercado concentrado de comunicação. A indignação e o repúdio ao desrespeito me levaram a coletar dados para explicar objetivamente porque as elites brasileiras detestam Chávez.
Certos jornalistas e humoristas não sabem o que o povo venezuelano sabe, sente e vive. Aliás, não sabem nada nem sobre o povo brasileiro. Outro dia, um de seus amigos pediu socorro para saber o significado de “povo, gente, emprego”. Mas o povo pobre da Venezuela sabe o que ganhou com Chávez.
Em uma publicação da ONU intitulada Habitat, lançada em agosto do ano passado, há números e gráficos comparativos do “estado das cidades na América Latina e no Caribe”. O relatório trata de muitos temas que interessam a pesquisadores, gestores e moradores de grandes cidades. Seus números ajudam a entender também por que o povo da Venezuela está nas ruas chorando por Chávez.
As análises contidas no documento da ONU têm qualidade. São comparações internacionais que possuem grande utilidade.  Caracas e as cidades da Venezuela apresentam números que despertam interesse:
1) Em 1999, a Venezuela tinha 49% da sua população urbana em situação de pobreza e indigência. Em 2010, este percentual foi reduzido para 28%.
2) Entre 26 cidades selecionadas, o menor índice de Gini entre seus habitantes é o de Caracas, que é inferior a 0,40. No Brasil, é 0,5. Este índice mede a desigualdade de renda.
3) Nas cidades da Venezuela, mais de 80% das residências são ocupadas por seus proprietários. Na Colômbia, este número é inferior a 50%. A Venezuela é a melhor neste quesito; a Colômbia, a pior.
4) Na América Latina e no Caribe, a proporção de população urbana que tem saneamento está entre 80 e 85%. Na Venezuela, está próxima de 95%. Na Venezuela, 90% da população urbana recebem água encanada.
5) De 21 países selecionados, a maior cobertura de coleta de lixo urbana ocorre na Venezuela. A pior está no Paraguai.
6) Em 21 cidades selecionadas, mostra-se que o gasto médio mensal de um usuário regular de ônibus; em Caracas, é de 6% do salário mínimo. Em Buenos Aires, se gasta 5% e, em São Paulo e no Rio de Janeiro, 12%.
São esses números que os Jardins (em São Paulo) e o Leblon (no Rio) desconhecem. Nem fazem qualquer esforço para conhecê-los. Preferem ser informados pelos veículos que trazem conforto interno e energia para combater as possibilidades de mobilidade social – seja aqui, seja na Venezuela. Sãos os mesmos veículos que fazem piada com a dor do povo venezuelano.

O Brasil tem um ponto em comum com a Venezuela: o brutal desequilíbrio social. Havia outro até data recente, representado pela extraordinária semelhança entre a mídia venezuelana e a brasileira, uma e outra a serviço da oligarquia e da treva, sempre e sempre dispostas a inventar, omitir e mentir. Se hoje não há como alegar esta inglória parecença, é porque Hugo Chávez, ao contrário do governo do Brasil, decidiu enfrentar o inimigo.
No momento, mais da metade dos órgãos de comunicação venezuelanos são públicos, o que permite restabelecer um razoável equilíbrio entre as forças envolvidas nesta guerra. As palavras guerra e inimigo estão longe de ser exageradas. O ataque ao governo de Dilma Rousseff é feroz e diuturno, assim como foi a Lula e a Chávez. A mídia nativa, aliás, continua na ofensiva contra o líder venezuelano e celebra sua morte como se o odiado inimigo tivesse tombado no campo de batalha.
As razões são óbvias. Chávez, como Lula e Dilma, mexeu com os interesses da minoria privilegiada. Há diferenças entre o venezuelano e os brasileiros, ao contrário destes, aquele recorreu a formas autoritárias de poder. Mesmo assim, tratou-se de um formidável reformador e de um incentivador da unidade latino-americana a bem da independência do subcontinente, enfim livre da condição de quintal dos Estados Unidos.
Nem tudo na atuação de Chávez merece admiração, mas seus méritos estão expostos à luz do sol. A nossa mídia tratou Chaves como um déspota populista. A definição é tão imprópria quanto foi batizar de “terrorista” quem lutou contra a ditadura civil-militar. Populista porque nacionalista ao defender o petróleo de seu país como fez Getúlio Vargas em 1952 ao criar a Petrobras? Ou populista porque condenou firme e inexoravelmente o neoliberalismo?
Populista por ter tirado da miséria uma larga fatia de venezuelanos, e por ter garantido assistência médica e hospitalar a todos os concidadãos, e por ter erradicado o analfabetismo. Tal é a linha da mídia nativa, exército dos barões. O jornalismo há de se basear no respeito da verdade-factual, no exercício do espírito crítico e na fiscalização do poder. Os barões midiáticos e seus regimentos desrespeitam a verdade factual e submetem o espírito crítico aos seus dogmas e preconceitos. (Carta Capital e Altamiro Borges).



domingo, 3 de março de 2013

Renda mensal das mulheres sobe o triplo da dos homens em 10 anos.


O rendimento médio das mulheres cresceu mais que o triplo do dos homens entre 2000 e 2010. A renda com trabalho obtida pelas mulheres subiu 13,5% no período, enquanto a dos homens registrou alta de 4,1%. Na média geral, o crescimento foi de 5,5%.
Os dados fazem parte dos resultados do Censo 2010 e foram divulgados nesta sexta-feira (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Apesar de o crescimento ser maior, o salário feminino ainda é menor que o dos homens. Segundo o instituto, o rendimento mensal de trabalho das mulheres, que, em 2000, representava 67,7% do recebido pelos homens, em 2010 somava 73,8% do rendimento masculino.
Em 2000, o salário médio dos homens era R$ 1.450, enquanto as mulheres recebiam R$ 982. Em 2010, os homens ganhavam R$ 1.510, e as mulheres, R$ 1.115.

Número de imigrantes cresceu 86,7% em dez anos no Brasil, diz IBGE.


O Censo Demográfico 2010 registou 286.468 imigrantes que, vindos de outros países, viviam no Brasil há pelo menos cinco anos e em residência fixa. O número foi 86,7% maior do que o encontrado pelo Censo Demográfico 2000, quando foram registrados 143.644 imigrantes na mesma situação. Os dados do Censo Demográfico 2010 foram divulgados nesta sexta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
São Paulo, Paraná e Minas Gerais, juntos, receberam mais da metade dos imigrantes internacionais, seguidas de Rio de Janeiro e Goiás. Os principais países de origem dos imigrantes, segundo o Censo de 2010, são Estados Unidos (51.933), Japão (41.417), Paraguai (24.666), Portugal (21.376) e Bolívia (15.753).
O recorte da pesquisa também mostra dados sobre deficiências, migração, nupcialidade, fecundidade e mortalidade infantil, educação, trabalho, rendimento, tipos de domicílios e deslocamento. (leia mais abaixo)
Migração de retorno
O levantamento aponta que os migrantes de retorno, que voltam aos seus estados de origem, somaram mais de 1,1 milhão de pessoas entre 1995 e 2000. No período de 2005 a 2010 foi registrado um total de 1,2 milhão de migrantes. Os estados do Norte tiveram aumento na proporção de retorno, com exceção do Acre, que manteve praticamente no mesmo patamar na taxa de 21% entre 1995 e 2000 e 20% entre 2005 e 2010.
Rondônia passou de 7,4% de 1995 a 2000 para 13,1% entre 2005 e 2010. Roraima registrou 2,1%, entre 1995 e 2000, para 8% entre 2005 e 2010.
Os estados do Nordeste, tanto em 2000 quanto em 2010, apresentaram as maiores proporções de retornados, passando de 40% do total de imigrantes na maioria de seus estados, com exceção do Rio Grande do Norte e Sergipe.
No Sudeste, Minas Gerais e Espírito Santo tiveram redução na proporção de retornados, que permaneceram acima dos 30% em 2000 e em 2010.
Em São Paulo houve aumento de retornados, nos períodos de 1995 a 2000 e de 2005 a 2010, com registro de 9,6% e 18,9% do total de imigrantes, respectivamente. O Rio de Janeiro apresentou uma proporção de retornados de 15,6% e de 20,3%, respectivamente.
No Sul, Paraná e Rio Grande do Sul apresentaram altas proporções de migração de retorno, passando dos 30% nos dois períodos.
No Centro-Oeste foi registrado pelo IBGE o aumento dos retornados em todos os estados, principalmente no Mato Grosso e no Distrito Federal.
Nupcialidade
A proporção de pessoas divorciadas quase dobrou entre 2000 e 2010, passando de 1,7% para 3,1%. Na comparação nacional, Rio de Janeiro (4,1%), Mato Grosso (4,1%) e Distrito Federal (4,2%) apresentam os maiores valores deste indicador. Maranhão tem o menor, com 1,2% de divorciados em 2010.
Os dados separados por estado mostram que, em Rondônia, o número de pessoas que, após um período de união conjugal, já não viviam mais nessa situação aumentou 33%. Em Mato Grosso, o crescimento foi de 31%. O Rio de Janeiro teve índice de 17,5% de pessoas que passaram por dissolução do casamento. Por outro lado, o levantamento identificou redução na proporção de pessoas que nunca se casaram, passando de 38,6% para 35,4%.
Segundo o IBGE, na última década, dados da pesquisa do Registro Civil apontaram um aumento do número de divórcios no país, principalmente a partir de 2007, quando essas medidas puderam ser feitas por vias administrativas nos Tabelionatos de Notas. A partir de 2010 foi possível requerer a dissolução do casamento a qualquer tempo, seja o divórcio de natureza consensual ou litigiosa.
No país, 36,4% das pessoas declararam viver em união consensual em 2010. O número é maior do que o registrado em 2000, quando 28,6% da população estava nesta situação.
Fecundidade e mortalidade infantil
A taxa de fecundidade total no país, de acordo com o Censo Demográfico 2010, era de 2,38 filhos por mulher, em 2000, e passou a a 1,90 filho por mulher. A queda na década é de 20,1%.
Mortalidade infantil
A taxa de mortalidade infantil obtida por método indireto com as informações do Censo Demográfico 2010 foi de 15,6‰, o que representa 15,6 óbitos de crianças menores de 1 ano para cada 1.000 nascidos vivos.
Segundo o IBGE, a fonte de dados natural para o cálculo deste indicador deveria ser o registro de nascimentos e óbitos, de acordo com as Estatísticas do Registro Civil ou pelo Sistema de Informações de Nascidos Vivos (Sinasc). No entanto, o instituto considerou que os dados fornecidos pelas duas fontes ainda possuem limitações de cobertura nos estados, especialmente no Norte e Nordeste.
Educação
Os resultados do Censo Demográfico 2010 mostraram que 3,1% das pessoas entre 7 e 14 anos de idade não frequentavam escola no país. Entre as crianças a partir de 6 anos (idade definida para iniciar o ensino fundamental com duração de nove anos) o percentual de pessoas que não frequentavam escola até os 14 anos foi de 3,3%. Cerca de 966 mil crianças e adolescentes (6 a 14 anos de idade) não frequentavam escola em 2010.
Trabalho
Entre a população economicamente ativa no país, com 15 anos ou mais de idade (faixa etária utilizada para muitos enfoques internacionais), a taxa de atividade alcançou 3,7% em 2010. Os valores subiram nas regiões Sul (69%) e Centro-Oeste (68,5%). Os mais baixos ficaram nas regiões Nordeste (58,1%) e Norte (61,2%). A região Sudeste ficou com (65%).
Em 2010, a taxa de atividade desta faixa etária alcançou 71% no Distrito Federal e 71,6% em Santa Catarina. O outro extremo foi registrado no Maranhão (55,4%) e em Alagoas (55,5%).
Rendimento
Apenas 0,9% da população brasileira ganhava mais de 20 salários mínimos de rendimento mensal em 2010. A parcela sem rendimento foi de 6,6% e a das com remuneração de até um salário mínimo foi de 32,7%. As pessoas que ganhavam mais de dez salários mínimos mensais chegaram a 3,1% da população ocupada.
O rendimento médio mensal de todos os trabalhos das pessoas ocupadas no país teve crescimento real de 5,5%, de 2000 para 2010. O incremento no rendimento das mulheres foi de 13,5% maior do que no dos homens, que chegou a 4,1% na década.