CARTA MAIOR: Fora as armas
nucleares, o capitalismo é a maior ameaça que a humanidade já enfrentou. Ele
levou a ganância a um patamar de força determinante da história.
A teoria econômica
ensina que os movimentos financeiros a preços e lucros livres garantem que o
capitalismo produz o maior bem-estar para o maior número de pessoas. Perdas
indicam atividade econômica em que os custos excedem o valor da produção, de
modo que investimentos nestas áreas devem ser restritos. Lucros indicam
atividades em que o valor de produção excede o custo, que fazem o investimento
crescer. Os preços indicam a escassez relativa e o valor das entradas e saídas,
servindo assim para organizar a produção mais eficientemente.
Essa teoria não é o que
funciona quando o governo dos EUA socializa custos e privatiza lucros, como vem
sendo feito com o apoio do Banco Central aos bancos “grandes demais para
quebrarem” e quando um punhado de instituições financeiras concentram tamanha atividade
econômica. Bancos “privados” subsidiados não são diferentes das outrora
publicamente subsidiadas indústrias da Grã Bretanha, França, Itália e dos
países então países comunistas. Os bancos impuseram os custos de sua
incompetência, ganância e corrupção sobre os contribuintes.
Na verdade, as empresas
socializadas na Inglaterra e na França eram dirigidas mais eficientemente, e
nunca ameaçavam as economias nacionais, menos ainda o mundo inteiro de ruína,
como os bancos privados dos EUA, os “grandes demais para quebrar” o fazem. Os ingleses, franceses e os comunistas nunca
tiveram 1 bilhão de dólares anuais, para salvar um punhado de empresas financeiras
corruptas e incompetentes.
Isso só ocorre no
“capitalismo de livre mercado”, em que capitalsitas, com a aprovação da
corrupta Suprema Corte dos EUA, pode comprar o governo, que os representa, e
não o eleitorado. Assim, a tributação e o poder de criação de dinheiro do
governo são usados para bancar poucas instituições financeiras às custas do
resto do país. É isso o que significa “mercados autorregulados”.
Há muitos anos, Ralhp
Gomery alertou que os danos para os trabalhadores estadunidenses dos empregos
no exterior seriam superados pela robótica. Gomery me disse que a propriedade
de patentes tecnológicas é altamente concentrada e que as inovações tornaram os
robôs cada vez mais humanos em suas capacidades. Consequentemente, a
perspectiva para o emprego humano é sombria.
As palavras de Gomory
reverberam em mim quando leio o informe da RT, de 15 de fevereiro último, com
especialistas de Harvard que construíram máquinas móveis programadas com termos
lógicos de auto-organização e capazes de executarem tarefas complexas sem direção
central ou controle remoto.
A RT não entende as
implicações. Em vez de levantar uma bandeira vermelha, a RT se entusiasma: “as
possibilidades são vastas. As máquinas podem ser feitas para construir qualquer
estrutura tri-dimensional por si sós, e com mínima instrução. Mas o que é
realmente impressionante é a sua capacidade de adaptação ao seu ambiente de
trabalho e a cada um deles; para calcular perdas, reorganizar esforços e fazer
ajustes. Já está claro que o desenvolvimento fará maravilhas para a humanidade
no espaço, e em lugares de difícil acesso e em outras situações difíceis”.
Do modo como o mundo
está organizado, sob poucos e imensamente poderosos e gananciosos interesses
privados, a tecnologia nada fará pela humanidade. A tecnologia significa que os
humanos não serão mais requeridos na força de trabalho e que os exércitos de
robôs sem emoção tomarão o lugar dos exércitos humanos e não há qualquer
remorso quanto a destruir os humanos que os desenvolveram. O quadro que emerge
é mais ameaçador que as previsões de Alex Jones. Diante da pequena demanda por
trabalho humano, muito poucos pensadores preveem que os ricos pretendem
aniquilar a raça humana e viver num ambiente dentre poucos, servidos por seus
robôs. Se essa história ainda não foi escrita como ficção científica, alguém
deveria se dedicar a fazê-lo, antes que se torne algo comum da realidade.
Os cientistas de
Harvard estão orgulhosos de sua conquista, assim como sem dúvida estavam os
participantes do Projeto Manhattan, em relação à conquista por terem produzido
uma arma nuclear. Mas o sucesso dos cientistas do Projeto Manhattan não foi
muito bom para os residentes de Hiroshima e Nagasaki, e a perspectiva de uma
guerra nuclear continua a lançar uma nuvem negra sobre o mundo.
A tecnologia de Harvard
provará que é inimiga da raça humana. Esse resultado não é necessário, mas os
ideólogos do livre mercado pensam que qualquer planejamento ou antecipação é
uma interferência no mercado, que sempre sabe melhor (daí a atual crise
financeira e econômica). A ideologia do livre mercado alia-se ao controle
social e serve a interesses de curto prazo de gananciosos grupos privados. Em
vez de ser usada para a humanidade, a tecnologia será usada para o lucro de um
punhado.
Essa é a intenção, mas
qual é a realidade? Como pode haver uma economia de consumo se não há emprego?
Não pode, que é o que estamos aprendendo gradativamente com a exportação de
empregos pelas corporações globais, para o exterior. Por um período limitado
uma economia pode continuar a funcionar na base de empregos de meio turno,
rebaixamento de salários, cartões de benefícios sociais – de segurança alimentar
e auxílio-desemprego.
Quando a poupança cai,
no entanto, quando os políticos sem coração que demonizam os pobres cortam
esses benefícios, a economia deixa de produzir mercado para consumir os bens
importados que as corporações trazem para vender.
Aqui vemos o fracasso
total da mão invisível de Adam Smith. Cada corporação em busca de vantagens
gerenciais maiores, determinadas pelos lucros obtidos em parte pela produção da
destruição do mercado consumidor dos EUA e da miséria maior de todos.
A economia smithiana
aplica-se a economias nas quais os capitalistas têm algum sentido de vida comum
com outros cidadãos do país, como o tinha Henry Ford.
Algum tipo de
pertencimento a um país ou a uma cidade. A globalização destrói esse sentido. O
capitalismo evoluiu ao ponto em que os interesses econômicos mais poderosos, os
interesses que controlam o próprio governo, não têm sentido de obrigação com o
país nos quais seus negócios estão registrados. Fora as armas nucleares, o
capitalismo é a maior ameaça que a humanidade já teve diante de si.
O capitalismo
internacional levou a ganância a um patamar de força determinante da história.
O capitalismo desregulado e dirigido pela ganância está destruindo as
perspectivas de emprego no mundo desenvolvido e no mundo em desenvolvimento,
cujas agriculturas se tornaram monoculturas para exportação a serviço dos
capitalistas globais, para alimentarem a si mesmos. Quando vier a quebradeira,
os capitalistas deixarão “a outra” humanidade à míngua.
Enquanto isso, os
capitalistas declaram, em seus encontros de cúpula, “que há muita gente no
mundo”.
(*) Diretor do
Institute for Political Economy. Versão original do artigo aqui.
(**) Tradução: Louise
Antônia León