È previsível o
comportamento do PIG no que tange ao golpe de Estado “constitucional” no Paraguai,
reforçando a sua
história de apreço pelas rupturas institucionais aqui (Brasil) e em outros países
governados pela esquerda.
O grau de amor ao
golpismo que se está vendo na mídia brasileira vai do apoio envergonhado da
Folha de São Paulo ao apoio desavergonhado da Globo. Todos, porém, encarregados
de vender ao país a teoria de que haveria algum "mínimo resquício de legalidade
no processo que derrubou o governo legitimamente eleito" do país vizinho e que
está tudo tranquilo no Paraguai após a destituição do Presidente eleito pelo
povo.
A Folha, em editorial, costata
que o processo não obedeceu aos ritos legais aceitáveis em um processo dessa
natureza, mas prega a consolidação do golpe afirmando que “Cumpre ao Brasil respeitar a soberania do Paraguai” aceitando o Ato de violência contra um
governo constitucional.
Já a Globo, põe Arnaldo Jabor e Merval Pereira
para defenderem o golpismo à paraguaia. Os “pensamentos” desses dois se aliam
aos de setores da classe política brasileira como o que integra o
vice-presidente nacional do DEM, o baiano José Carlos Aleluia, que comemorou o
golpe “constitucional” no Paraguai e insinuou que pode se reproduzir aqui.
O comentário de Jabor
no Jornal da Globo de sexta-feira (22.06) é o mais emblemático das perversões
políticas que acalenta essa meia dúzia de impérios de comunicação daqui e,
também, de outros tantos países latino-americanos que vivem sob permanentes
ameaças à democracia. Abaixo, a íntegra de um comentário que resume a grande
mídia brasileira.
Jornal da Globo - 23 de
junho de 2012
Comentário de Arnaldo
Jabor.
“Na
América Latina existe uma mistura de populismo com slogans de uma velha
esquerda enterrada desde a queda do muro de Berlim – autoritarismo disfarçado
de democracia.
Assim
vive a Venezuela do Chávez, a Bolívia “cocalera” de Morales, a Argentina de
Cristina “botox” e o Paraguai, em que o ex-bispo Lugo prometeu reforma agrária
para os sem-terra, mas também esmagou o santuário dos guerrilheiros do povo por
ter sido acusado de protegê-los.
Tá
confuso entender isso, não é? Mas é o Paraguai, é uma caricatura desse
esquerdismo-direitista latino. Um exemplo é o próprio bispo católico Lugo, que
teve vários filhos ainda de batina roxa, pregando castidade com sexo. Agora em
junho, ele atacou os sem-terra, que o elegeram. Morreram policiais e
camponeses.
Criticado
pelos dois lados, Lugo chamou a oposição para o governo. Aí a mistura entornou
e o bispo sem batina foi “impichado” pelo congresso como está previsto na
constituição do Paraguai.
Agora
a polêmica: foi golpe ou impeachment legal? Os tiranetes latinos já gritam
“golpe!”. Mas golpe de quem, da esquerda ou da direita? Uísque falsificado ou
escocês?
E
o Brasil, qual será sua posição? Vai dar mais grana para o pobre Paraguai, como
fez Lula em Itaipu, ou vai oferecer abrigo ao Lugo na embaixada, como fez com
Zelaya em Honduras?
—–
“Tiranetes”? Que
“tiranetes”? Os presidentes dos países da Unasul que rechaçaram o golpe
“branco” no Paraguai – entre os quais está a presidente Dilma Rousseff – podem
ser tudo, menos isso. Elegeram-se de forma inquestionavelmente democrática, à
diferença dos regimes militares que Globo, Folha e outras organizações
criminosas apoiaram durante o século XX.
Note-se que a fala de
Jabor alude à vida íntima de Fernando Lugo, como se ele ter gerado filhos
enquanto era padre, mas antes de se eleger presidente, justificasse ruptura da
ordem institucional em seu país.
Cristina Kirchner,
presidente da Argentina, é alvo de machismo de Jabor. “Cristina botox”, ele
disse. Bem, se isso for sinônimo de “tirania”, como quer o pistoleiro global,
boa parte das mulheres, mães, filhas e irmãs dos barões da mídia ou as
socialites do entorno que possam ter usado botox um dia para se embelezarem
deixaram de ser democráticas por isso.
Já Merval Pereira, em
mais uma de suas mervalices, ao menos inventa alguma desculpa para derrubarem
um governo legitimamente eleito em pouco mais de 24 horas. Abaixo, trecho do
golpismo mervalista-global:
—–
O Globo 23 de junho de
2012
Dentro da lei Merval
Pereira
(…)
Não é possível classificar de golpe o que aconteceu no Paraguai, sob pena de
darmos razão ao hoje senador Fernando Collor de Mello que se diz vítima de um
“golpe parlamentar”, e que, em entrevista, já chegou a reivindicar de volta seu
mandato presidencial. O interessante é que Collor foi impedido pelo Congresso
brasileiro num processo que teve a liderança do PT, tanto na atividade
parlamentar quanto na mobilização dos chamados movimentos sociais para apoiar a
decisão dos políticos (…).
—–
Não há um só analista
de política internacional, nenhum especialista acadêmico e nenhum político que
concordem com Merval e Jabor. Seus comentários poderiam ser tomados por falta
de conhecimento sobre como funcionam as democracias presidencialistas por quem
não lhes conhece a história, mas quem sabe como e por que dizem essas coisas
sabe que é porque são golpistas mesmo.
Collor? O processo de
impeachment dele, desde a abertura do processo no Congresso até sua saída da
Presidência, demorou, aproximadamente, SEIS MESES, enquanto que o processo que
derrubou Lugo durou cerca de UM DIA, com DUAS HORAS PARA O PRESIDENTE SE
DEFENDER.
Pior é a acusação. O
confronto entre sem-terras e forças de repressão do Estado não poderia ser
atribuído a Lugo sem investigação sobre o que aconteceu. Testemunhas e
evidências ou provas teriam que ser apresentadas ao congresso, teria que ser
provado que o presidente da república ordenou alguma coisa ou teve participação
direta no caso.
O processo foi tão
absurdo que até o agora “presidente” do Paraguai, Federico Franco, reconhece
que ocorreu “muito rápido” e se disse “surpreendido” pela rapidez. Para a
América Latina e, mais particularmente, para o Brasil esse golpe
“constitucional” não é apenas inaceitável, mas, aliado ao comportamento da
grande mídia e de parte da classe política nacionais e dos outros países da
região, é uma ameaça. Escancara quantos poderes acalentam devaneios golpistas.
A ruptura democrática
no Paraguai, para nós que com ele dividimos uma das maiores usinas
hidrelétricas do mundo ou uma fronteira por
onde trafega intensa relação comercial é ameaçadora porque nos afeta
diretamente. Bem como aos demais países da região.
Boa parte dos países da
Unasul já condenou o golpe paraguaio. Mesmo Dilma Rousseff, muito mais comedida
que os líderes dos outros países da organização já deu mostras de que não deve
aceitar o que ocorreu. Todos os países da região sabem a porta que será aberta
se não houver resposta à altura.
Entretanto, apesar dos
protocolos da União das Nações Sul-Americanas, haverá que ver como se
comportarão a Organização dos Estados Americanos (OEA) e, claro, os Estados
Unidos. A OEA deve ratificar as posições da Unasul, como fez durante o golpe em
Honduras. Mas os EUA podem se meter a suprir o que as sanções da comunidade das
Américas tirarem do Paraguai.
Os EUA poderão despejar
dólares em seus cofres de forma a ter como sustentar o regime de força que
acaba de ser instalado e que já começa a promover censura – no mesmo dia da
deposição de Lugo, o “presidente” do país mandou a TV estatal censurar as
manifestações de apoio ao presidente deposto.