sábado, 6 de dezembro de 2014

A cúpula de Lima dará um empurrão nas tecnologias verdes? (Carta Maior)

Lima, Peru, 4/12/2014 – O caminho para a economia verde está cheio de recompensas e riscos, e os responsáveis políticos devem tratar de equilibrá-­lo para que prospere a transição para as fontes de energia baixas em carbono, afirmam especialistas climáticos que participam da cúpula do clima na capital peruana. “Creio que o importante é que na maioria desses processos haverá ganhadores e perdedores”, afirmou à IPS John Christensen, diretor do Centro sobre Energia, Clima e Desenvolvimento Sustentável, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
“Devemos estar conscientes de que há pessoas que vão perder e que será preciso cuidar delas para que não se sintam excluídas. Devemos encontrar outras formas de torná-las participantes, porque do contrário haverá muita resistência por parte de grupos que têm interesses especiais”, afirmou Christensen por ocasião da 20ª Conferência das Partes (COP 20) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática que acontece em Lima, no Peru.
Entre os dias 1º e 12, representantes de 195 países e centenas de membros da sociedade civil negociam o rascunho de um novo tratado mundial destinado a reverter o aquecimento do planeta, que deverá ser assinado dentro de um ano na conferência de Paris. A COP 20 oferecerá um adiantamento do que se pode esperar do Protocolo de Paris em relação à eliminação no longo prazo das usinas elétricas movidas a carvão, a taxa de utilização de energias renováveis e o apoio financeiro e tecnológico aos países vulneráveis e de menor desenvolvimento.
Por exemplo, Neves, uma ilha de 13 quilômetros de comprimento no Caribe, anunciou recentemente que está “prestes a passar a ser totalmente ecológica”. Seu vice primeiro ministro e ministro do Turismo, Marcos Brantley, se referiu à situação de geração de combustíveis fósseis por fontes de energia renováveis, a fim de desenvolver o turismo.
“Além de reduzir a pegada de carbono nacional, a preocupação pela gestão de resíduos é um tema particularmente difícil para todas as nações”, afirmou Brantley. Neves contratou a empresa norte­americana Omni Alfa para extrair energia de seus resíduos e construir um parque de energia solar, destacou. O ministro pontuou à IPS que esses avanços, “junto com o desenvolvimento de nossas fontes de energia geotérmica, prometem fazer de Neves o lugar mais ecológico na terra”. Christensen disse que a reunião do Caribe poderia aprender lições com a Dinamarca, seu país de nascimento. Os estaleiros dinamarqueses não podiam competir com os da Coreia do Sul e da China, e “o governo por muito tempo continuou injetando dinheiro para tentar mantê-los respirando, em lugar de tentar a transição para outra coisa. Agora produzem moinhos de vento e outras coisas com mais futuro”, explicou.
Muitos países do Caribe usam óleo combustível ou diesel para produzir energia, além de gasolina para automóveis, tudo o que precisa ser importado, apontou Christensen. Mas poucos países insulares contam com os recursos financeiros necessários para pagar anualmente as importações de combustíveis, que são “bastante caras”, assegurou. Esses países deveriam aproveitar sua localização geográfica, que oferece “muito sol, potencial para biomassa e vento”, sugeriu.
Cuba fez uma transição importante para a energia solar no setor energético”, disse Christensen, e outros países do Caribe apostam na conservação das florestas e aproveitam mais recursos ambientais que antes consideravam sem valor. “Agora temos que falar sobre o que acontecerá se os países não avançarem. Como todas as ilhas, seus riscos de inundação aumentarão. Por isso, na transição verde, os países têm de buscar a forma de serem mais resistentes”, ressaltou. Segundo Christensen, “há formas de melhorar a eficiência, porque o clima está cada vez mais quente, e, pelo lugar em que estão, é necessário buscar novas oportunidades na economia verde que também os protejam da mudança climática no futuro”.
O Centro e Rede de Tecnologia do Clima (CRTC), braço operacional do Mecanismo de Tecnologia da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (CMNUCC), incentiva a transferência acelerada, diversificada e gradual de tecnologias ecologicamente viáveis para a mitigação e adaptação à mudança climática no Sul em desenvolvimento, em linha com suas prioridades de desenvolvimento sustentável.
A CMNUCC realiza em Lima sua 20ª conferência anual das partes, que desde 2005 tem como instrumento em vigor o Protocolo de Kyoto, que deverá ser substituído pelo de Paris a partir de 2020“O CRTC é um motor, um veículo para ajudar os países a conseguirem economias verdes”, explicou à IPS Jason Spensley, a sua gerente de tecnologia climática. “Nos próximos dias veremos uma solicitação de Antiga e Barbuda relativa ao desenvolvimento da energia renovável, e especificamente da eólica… o preço da energia ali é muito alto”, afirmou.
A República Dominicana também negocia com o CRTC a apresentação de um pedido de produção de energia renovável. Nos últimos tempos o Banco de Desenvolvimento do Caribe, a maior instituição de crédito da região, redobrou as gestões para atrair o investimento em projetos de energia renovável e adaptação à mudança climática na região. Seu presidente, Warren Smith, disse que grande parte do Caribe oriental, que inclui os menores países, tem um grande potencial geotérmico que permitiria reduzir drasticamente a importação de combustíveis fósseis e até convertê-los em exportadores de energia, devido à proximidade de ilhas sem esses recursos.

Christiana Figueres, secretária­executiva da CMNUCC, exortou na COP 20 os 12.400 assistentes a desejarem grandes alturas e propôs várias linhas de ação fundamentais. “Primeiro, devemos trazer à mesa o projeto de um novo acordo universal sobre a mudança climática e explicar como serão comunicadas as contribuições nacionais no próximo ano”, enfatizou. “Segundo, devemos consolidar os progressos em matéria de adaptação para conseguir a paridade política com a mitigação, devido à urgência de ambas por igual”, acrescentou Figueres. “Terceiro, é preciso melhorar a prestação de financiamento, em particular para os mais vulneráveis. Por fim, devemos estimular a ação cada vez maior por parte de todos os interessados para ampliar o alcance e acelerar as soluções que nos façam avançar a todos, mais rápido”, concluiu. Envolverde/IPS