domingo, 24 de junho de 2012

Arma cibernética? Ataques terroristas virtuais?


Flame espiona e pode sabotar computadores. É provável que o vírus tenha sido criado em uma parceria Israel-EUA com objetivo de atacar o programa nuclear iraniano.


O poderoso vírus de computador Flame é capaz não apenas de espionar mas de sabotar sistemas de computação, e é provável que tenha sido usado para atacar o Irã em abril, de acordo com a Symantec, uma grande companhia de segurança na computação.
O Irã havia acusado o Flame de causar perda de dados nos computadores do principal terminal de exportação de petróleo e no Ministério do Petróleo do país. Mas antes da descoberta da Symantec, os especialistas haviam descoberto apenas provas de que o programa espionava conversações entre computadores infectados, e roubava dados.
Vikram Thakur, pesquisador da Symantec, informou na quinta-feira que a companhia agora identificou um componente do Flame que permite que operadores apaguem arquivos de computadores, o que significa que o vírus pode causar problemas em programas importantes ou desabilitar completamente um sistema operacional.
“Eles têm a capacidade de apagar tudo que está armazenado em um computador”, disse Thakur. “Não é algo teórico, mas sim uma capacidade concreta e presente”.
O Flame surgiu pelo menos cinco anos atrás e é o mais sofisticado programa de espionagem cibernética já descoberto. Pesquisadores vêm correndo para compreender melhor suas capacidades desde que a Kaspersky Lab, de Moscou, identificou o Flame no mês passado, depois que uma agência da ONU convidou a companhia de segurança na computação a estudar um vírus que, segundo o Irã, havia sabotado computadores no país, apagando dados importantes.
Na semana passada, pesquisadores da Kaspersky Lab associaram parte do código do Flame ao Stuxnet, arma cibernética supostamente usada pelos Estados Unidos e Israel para atacar o programa nuclear do Irã. A Symantec confirmou posteriormente que o Flame e o Stuxnet usam trechos comuns de código.
Funcionários e ex-funcionários dos serviços de segurança norte-americanos disseram à Reuters esta semana que os EUA haviam participado da criação do Flame. O jornal Washington Post reportou que os EUA e Israel haviam desenvolvido o Flame juntos, para recolher informações sobre o programa nuclear do Irã.
O Irã se queixou de novo da ameaça de ataques a seus computadores, quinta-feira (21/06), dizendo ter detectado planos dos EUA, Israel e Reino Unido para um ataque “maciço”, depois do fracasso de negociações sobre as atividades nucleares de Teerã. Não se sabe se estavam se referindo ao Flame ou a outro vírus.

O QUE A "GRANDE" MÍDIA NACIONAL ESTÁ FALANDO DO GOLPE NO PARAGUAI...

            È previsível o comportamento do PIG no que tange ao golpe de Estado “constitucional” no Paraguai, reforçando a sua história de apreço pelas rupturas institucionais aqui (Brasil) e em outros países governados pela esquerda.
O grau de amor ao golpismo que se está vendo na mídia brasileira vai do apoio envergonhado da Folha de São Paulo ao apoio desavergonhado da Globo. Todos, porém, encarregados de vender ao país a teoria de que haveria algum "mínimo resquício de legalidade no processo que derrubou o governo legitimamente eleito" do país vizinho e que está tudo tranquilo no Paraguai após a destituição do Presidente eleito pelo povo.
A Folha, em editorial, costata que o processo não obedeceu aos ritos legais aceitáveis em um processo dessa natureza, mas prega a consolidação do golpe afirmando que “Cumpre ao Brasil respeitar a soberania do Paraguai” aceitando o Ato de violência contra um governo constitucional.
 Já a Globo, põe Arnaldo Jabor e Merval Pereira para defenderem o golpismo à paraguaia. Os “pensamentos” desses dois se aliam aos de setores da classe política brasileira como o que integra o vice-presidente nacional do DEM, o baiano José Carlos Aleluia, que comemorou o golpe “constitucional” no Paraguai e insinuou que pode se reproduzir aqui.
O comentário de Jabor no Jornal da Globo de sexta-feira (22.06) é o mais emblemático das perversões políticas que acalenta essa meia dúzia de impérios de comunicação daqui e, também, de outros tantos países latino-americanos que vivem sob permanentes ameaças à democracia. Abaixo, a íntegra de um comentário que resume a grande mídia brasileira.
Jornal da Globo - 23 de junho de 2012
Comentário de Arnaldo Jabor.
“Na América Latina existe uma mistura de populismo com slogans de uma velha esquerda enterrada desde a queda do muro de Berlim – autoritarismo disfarçado de democracia.
Assim vive a Venezuela do Chávez, a Bolívia “cocalera” de Morales, a Argentina de Cristina “botox” e o Paraguai, em que o ex-bispo Lugo prometeu reforma agrária para os sem-terra, mas também esmagou o santuário dos guerrilheiros do povo por ter sido acusado de protegê-los.
Tá confuso entender isso, não é? Mas é o Paraguai, é uma caricatura desse esquerdismo-direitista latino. Um exemplo é o próprio bispo católico Lugo, que teve vários filhos ainda de batina roxa, pregando castidade com sexo. Agora em junho, ele atacou os sem-terra, que o elegeram. Morreram policiais e camponeses.
Criticado pelos dois lados, Lugo chamou a oposição para o governo. Aí a mistura entornou e o bispo sem batina foi “impichado” pelo congresso como está previsto na constituição do Paraguai.
Agora a polêmica: foi golpe ou impeachment legal? Os tiranetes latinos já gritam “golpe!”. Mas golpe de quem, da esquerda ou da direita? Uísque falsificado ou escocês?
E o Brasil, qual será sua posição? Vai dar mais grana para o pobre Paraguai, como fez Lula em Itaipu, ou vai oferecer abrigo ao Lugo na embaixada, como fez com Zelaya em Honduras?
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“Tiranetes”? Que “tiranetes”? Os presidentes dos países da Unasul que rechaçaram o golpe “branco” no Paraguai – entre os quais está a presidente Dilma Rousseff – podem ser tudo, menos isso. Elegeram-se de forma inquestionavelmente democrática, à diferença dos regimes militares que Globo, Folha e outras organizações criminosas apoiaram durante o século XX.
Note-se que a fala de Jabor alude à vida íntima de Fernando Lugo, como se ele ter gerado filhos enquanto era padre, mas antes de se eleger presidente, justificasse ruptura da ordem institucional em seu país.
Cristina Kirchner, presidente da Argentina, é alvo de machismo de Jabor. “Cristina botox”, ele disse. Bem, se isso for sinônimo de “tirania”, como quer o pistoleiro global, boa parte das mulheres, mães, filhas e irmãs dos barões da mídia ou as socialites do entorno que possam ter usado botox um dia para se embelezarem deixaram de ser democráticas por isso.
Já Merval Pereira, em mais uma de suas mervalices, ao menos inventa alguma desculpa para derrubarem um governo legitimamente eleito em pouco mais de 24 horas. Abaixo, trecho do golpismo mervalista-global:
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O Globo 23 de junho de 2012
Dentro da lei Merval Pereira
(…) Não é possível classificar de golpe o que aconteceu no Paraguai, sob pena de darmos razão ao hoje senador Fernando Collor de Mello que se diz vítima de um “golpe parlamentar”, e que, em entrevista, já chegou a reivindicar de volta seu mandato presidencial. O interessante é que Collor foi impedido pelo Congresso brasileiro num processo que teve a liderança do PT, tanto na atividade parlamentar quanto na mobilização dos chamados movimentos sociais para apoiar a decisão dos políticos (…).
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Não há um só analista de política internacional, nenhum especialista acadêmico e nenhum político que concordem com Merval e Jabor. Seus comentários poderiam ser tomados por falta de conhecimento sobre como funcionam as democracias presidencialistas por quem não lhes conhece a história, mas quem sabe como e por que dizem essas coisas sabe que é porque são golpistas mesmo.
Collor? O processo de impeachment dele, desde a abertura do processo no Congresso até sua saída da Presidência, demorou, aproximadamente, SEIS MESES, enquanto que o processo que derrubou Lugo durou cerca de UM DIA, com DUAS HORAS PARA O PRESIDENTE SE DEFENDER.
Pior é a acusação. O confronto entre sem-terras e forças de repressão do Estado não poderia ser atribuído a Lugo sem investigação sobre o que aconteceu. Testemunhas e evidências ou provas teriam que ser apresentadas ao congresso, teria que ser provado que o presidente da república ordenou alguma coisa ou teve participação direta no caso.
O processo foi tão absurdo que até o agora “presidente” do Paraguai, Federico Franco, reconhece que ocorreu “muito rápido” e se disse “surpreendido” pela rapidez. Para a América Latina e, mais particularmente, para o Brasil esse golpe “constitucional” não é apenas inaceitável, mas, aliado ao comportamento da grande mídia e de parte da classe política nacionais e dos outros países da região, é uma ameaça. Escancara quantos poderes acalentam devaneios golpistas.
A ruptura democrática no Paraguai, para nós que com ele dividimos uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo ou uma fronteira por  onde trafega intensa relação comercial é ameaçadora porque nos afeta diretamente. Bem como aos demais países da região.
Boa parte dos países da Unasul já condenou o golpe paraguaio. Mesmo Dilma Rousseff, muito mais comedida que os líderes dos outros países da organização já deu mostras de que não deve aceitar o que ocorreu. Todos os países da região sabem a porta que será aberta se não houver resposta à altura.
Entretanto, apesar dos protocolos da União das Nações Sul-Americanas, haverá que ver como se comportarão a Organização dos Estados Americanos (OEA) e, claro, os Estados Unidos. A OEA deve ratificar as posições da Unasul, como fez durante o golpe em Honduras. Mas os EUA podem se meter a suprir o que as sanções da comunidade das Américas tirarem do Paraguai.
Os EUA poderão despejar dólares em seus cofres de forma a ter como sustentar o regime de força que acaba de ser instalado e que já começa a promover censura – no mesmo dia da deposição de Lugo, o “presidente” do país mandou a TV estatal censurar as manifestações de apoio ao presidente deposto.
Começa na próxima quarta-feira, em Mendoza, Argentina, a Cúpula do Mercosul. No encontro dos chefes de Estado, no fim da semana, estava prevista a passagem da Presidência ‘pro tempore’ do bloco à República do Paraguai, leia-se, ao presidente democraticamente eleito, Fernando Lugo. Que atitude tomarão agora Dilma Rousseff, Pepe Mujica e Cristina Kirchner diante do golpe da última sexta-feira? Recorde-se que o mesmo Congresso que derrubou Lugo bloqueia há mais de um ano o ingresso da Venezuela no Mercosul,  já aprovado pelos demais parceiros. O argumento soa agora irônico: 'o governo Chavez não é democrático', alegam os senadores paraguaios que tiraram Lugo da presidência em menos de 30 hs. Em entrevista à TV Pública de seu país, sábado (23/06), Cristina Kirchner foi enfática quanto a posição de seu governo “Argentina no va a convalidar el golpe de Estado en Paraguay”. Com exemplar coerência, a Casa Rosada decidiu na tarde de sábado retirar seu embaixador em Assunção, assumindo a liderança na retaliação regional à derrubada de Lugo. Horas depois, já na noite de sábado, o Brasil adotaria atitude parecida, seguido pelo Uruguai: ambos convocaram seus representantes 'para consultas'. Brasília está sendo cortejada pelos novos ocupantes do Palácio de los Lopez, que prometem resolver a cidadania de 400 mil brasiguaios.
A destituição de Lugo representa um ponto fora da curva, ou o golpismo ainda lateja na América Latina?
Algumas considerações.
O caso paraguaio remete ao golpe de Honduras, que expulsou do poder o presidente Manuel Zelaya em junho de 2009, e logo em seguida forçou eleições fraudulentas, já que se realizaram sob um clima de terror e com proscrições, que levaram ao poder a Porfirio Lobo, em novembro desse mesmo ano.
Os Estados Unidos aprovaram o golpe contra Zelaya, a quem viam com receio por estar aliado a Hugo Chávez, respaldaram o processo “eleitoral” e depois, como era previsível, reconheceram a legalidade do mandato de Lobo, que não foi validada pela maioria dos governos americanos, com o Brasil liderando essa frente.
Na carona deste mandatário marionete do Paraguai, Washington recupera o seu domínio pleno no estratégico “umbigo” da América do Sul. Possivelmente o Departamento de Estado Norte Americano já não precisará forçar mais relatórios falsos sobre a suposta presença de “células adormecidas” da Al Qaeda na Tríplice Fronteira Paraguai, Brasil e Argentina, para justificar a presença de tropas próprias.
O fim da efêmera experiência de Lugo restitui ao Paraguai o seu status de peça chave incondicional dos Estados Unidos, que valoriza geopoliticamente as fronteiras do país com o Brasil, a Argentina e, sobretudo, o extenso limite paraguaio com a Bolívia, país onde Washington sempre aspira voltar a influenciar, especialmente depois que os agentes da DEA foram expulsos pelo governo de Evo Morales.
Pela queda de Lugo, agradecem os que apostam num autoritarismo “constitucionalizado” na A.L., de caráter antipopular e pró-ALCA. Agradecem os torturadores que não terão seus crimes revelados, agradecem os que querem resolver as questões dos movimentos sociais pela repressão. Agradecem as grandes corporações multinacionais, produtoras de transgênicos, como a Monsanto e Syngenta com apoio de uma oligarquia agrária. Agradece, também, a guerrilha paraguaia, que agora terá chance de sair do isolamento a que tinha se submetido, ao desenvolver a luta armada contra um governo legítimo, consagrado pelas urnas.

Paraguai: golpe e passividade. (site Carta Maior)

Queda de Fernando Lugo evidencia poder das oligarquias locais e repulsa a qualquer progresso social. Governando sempre em minoria dentro de sua própria coligação, ex-presidente mostrou-se incapaz de esboçar reação à altura da violência cometida. E em seu discurso final exibiu passividade surpreendente.
Completou-se a farsa. O Senado paraguaio desferiu um golpe de Estado com todos os procedimentos de legalidade formal e retirou do poder o presidente eleito em 2008, Fernando Lugo. No comando de tudo, as oligarquias que deram suporte à ditadura de Alfredo Stroessner (1954-89), agora com figurino modernizante. Termina melancolicamente um mandato marcado por ambigüidades e vacilações.

Apesar de ser um presidente fraco politicamente, Lugo era uma pedra no sapato das elites locais. Ex-bispo progressista, ligado aos movimentos de luta pela terra, ele só foi aceito pelo establishment local por ser sócio minoritário em uma coligação com maioria conservadora.

Constituição oligárquica
O Paraguai é um país com renda e poder extremamente concentrados. A queda da ditadura de Stroessner, em 1989, se deu através de uma aliança entre setores do governo, de seu partido (Colorado) e do empresariado com as forças armadas. Apesar do fim de medidas arbitrárias mais duras e dos avanços em direção a um estado de direito, as rédeas do processo de elaboração da Constituição de 1992 continuaram nas mãos da oligarquia local.

É interessante examinar a queda de Lugo à luz da Carta. O artigo 225, que trata do impedimento do Presidente da República, é suficientemente vago e elástico para permitir a deposição sumária de autoridades constituídas. Seu texto diz o seguinte, em tradução livre:

“O Presidente da República, o Vicepresidente, os ministros do Poder Executivo, os ministros da Corte Suprema de Justiça, o Procurador Geral do Estado, o Defensor Público, o controlador Geral da República, o Subcontrolador e os integrantes do Tribunal Superior de Justiça Eleitoral só poderão ser submetidos a juízo político por mal desempenho de suas funções, por delitos cometidos em exercício de seus cargos ou por delitos comuns”.

O termo “mal desempenho” pode significar qualquer coisa, a depender dos humores e orientações de quem julga tais atos.

O artigo 17 (“Dos direitos processuais”) poderia dar vantagem a Lugo nesse processo. Ele assegura que:

“No processo penal ou em qualquer outro do qual se possa derivar pena ou sanção, toda pessoa tem direito a: 1. Que seja presumida sua inocência; (…) 2. Que não se condene sem juízo prévio fundado em lei anterior ao fato do processo, sem que se julgue por tribunais especiais”.
Batalha política
No entanto, a batalha congressual que consumou o golpe está longe do terreno do direito. Ela se funda na adversa correlação de forças que o mandatário enfrentava no interior de sua própria coligação partidária. Ela é dominada pelo Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), de direita, uma espécie de PMDB local.

Para se ter uma idéia da situação do presidente, vale frisar que seu partido original, o Movimento Popular Tekojoja, elegeu apenas um deputado e um senador para o Congresso. O PLRA emplacou 26 deputados e 14 senadores e tornou-se fiador da governabilidade, impedindo quaisquer reformas sociais mais profundas patrocinadas pelo presidente.

O desgaste político enfrentado pelo ex-bispo se acentuou a partir de denúncias, em 2009, de que seria pai de três filhos, frutos de relacionamentos com mulheres menores de 18 anos. Tais fatos possibilitaram que o PLRA tivesse ainda mais proeminência na administração.

Lugo não teve forças para impedir ações repressivas contra movimentos sociais ao longo dos últimos anos, ao mesmo tempo em que era acusado de não ter energia suficiente para fazer frente a conflitos no campo.

O presidente chegou aos últimos dias incapaz de se opor à evidente conspiração contra seu mandato. Assistiu passivamente à montagem do processo parlamentar que colocou termo ao governo. O PLRA juntou-se à oposição colorada e decidiu tudo. Parecem ter se valido da máxima de Maquiavel, de que o mal deve ser feito de uma só vez e rapidamente.

Passividade presidencial
Para completar, é preciso ressaltar a lamentável passividade do presidente na sexta-feira (22). Lugo não foi pessoalmente ao Senado para se defender politicamente. Preferiu enviar seus advogados, como se tudo se resumisse a uma questão técnico-jurídica e não a um golpe de Estado com matriz nitidamente política.

Some-se a isso o pífio e curto discurso de despedida. Apesar de falar em golpe, abusou de eufemismos como “a democracia foi ferida profundamente”. Num tom de quem pede desculpas, declarou: “Como sempre atuei no marco da lei, embora essa lei tenha sido torcida como um frágil ramo ao vento, me submeto à decisão do Congresso e estou disposto a responder sempre por meus atos como ex-mandatário nacional”.

Com um comportamento frouxo, Lugo joga um balde de água fria em seus apoiadores e esvazia o esforço dos países da Unasul para isolar os golpistas.

A diplomacia brasileira, que tem se caracterizado pela ambiguidade e resignação nos últimos meses, não deve tomar atitude mais incisiva. Os Estados Unidos, ainda na noite de sexta, reconheceram o novo governo. Apenas Argentina, Bolívia, Equador, Venezuela e Nicarágua, até a tarde de sábado, chamaram a coisa pelo nome: golpe de Estado.

domingo, 17 de junho de 2012

Bancos ficam com uma boa fatia na partilha do dinheiro do narcotráfico

Por que nunca ou quase nunca prendem chefões do tráfico nos Estados Unidos? Talvez os narcotraficantes mexicanos e colombianos dominem totalmente um dos negócios mais rentáveis do planeta? A reposta parece indicar para que os chefões de países consumidores como EUA são os bancos que lavam o dinheiro e as autoridades que permitem que floresça o narcotráfico.
O diário britânico The Guardian faz uma interessante reportagem sobre o estudo Anti-Drugs Policies In Colombia: Successes, Failures And Wrong Turns, realizado por Alejandro Gaviria e Daniel Mejía, ao que parece o mais completo até a data no que se refere à análise dos mecanismos financeiros que operam no tráfico de drogas, especificamente a cocaína colombiana.
O estudo revela que só 2,6% do valor gerado pela cocaína produzida na Colômbia permanece nesse país, enquanto o restante 97,4% é capitalizado por sindicatos criminosos e bancos que lavam o dinheiro em países consumidores de primeiro mundo. Este minúscula derrame econômico contrasta com a grande violência gerada nos países onde a droga é produzida, e onde centram a guerra contra a droga. Gaviria, um dos autores, faz uma provocante analogia:
- "O que pensariam os estadunidenses se os índices de homicídios disparassem em Seattle porque o consumo e o negócio da cocaína migrasse ao Canadá?". Calcula-se que a cocaína colombiana é um negócio de 300 bilhões de dólares ao ano, dos quais só 7,8 bilhões ficam na Colômbia.
- "Se os países como Colômbia se beneficiassem economicamente do tráfico de drogas, existiria um verdadeiro sentido em tudo isto. No entanto, pagamos o preço dos ganhos de outros -Colômbia e agora o México", recalcou Gaviria.
Daniel Mejía acrescenta que existe uma grande diferença entre as normas nos bancos colombianos e nos bancos em países como Estados Unidos, onde não pesquisam a lavagem de dinheiro com o mesmo cuidado.
- "Todo o sistema operado pelas autoridades nas nações consumidoras é baseado em ir atrás do pequeno produtor, o elo mais débil na corrente e nunca atrás do grande negócio e dos sistemas financeiros onde estão as grandes quantidades de dinheiro… É tabu perseguir os grandes bancos. É suicídio político neste clima econômico porque a quantidade de dinheiro reciclado é muito alta".
Há dois anos iniciaram uma investigação no banco Wachovia (Wells Fargo) por lavar 380 milhões de dólares do narcotráfico mexicano. O banco admitiu ter transferido 110 milhões de dólares do México para os Estados Unidos e não monitorar 380 milhões. Estranhamente, dois anos depois o banco foi absolvido e ninguém foi preso. Esta é a imperante impunidade destas instituições que são muito grandes para cair.

McDonald's e CPI do Trabalho Escravo

No dia 12 de junho, a rede de fast food McDonald's foi tema de uma audiência pública na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados. Convidada para prestar informações sobre sua jornada de trabalho e o seu sistema de remuneração de funcionários, a empresa não enviou nenhum representante. A reunião já havia sido remarcada três vezes, por sugestão da própria empresa, para que a mesma adequasse a agenda dos seus diretores ao compromisso.
Diante da ausência de representantes do McDonald's, o deputado Domingos Dutra (PT) protocolou requerimento pedindo a convocação da vice-presidente do McDonald’s para América Latina, Marilene Fernandez, e outros executivos da empresa, para explicar-se sobre as denúncias na CPI do Trabalho Escravo.
A lanchonete é acusada de submeter seus funcionários a chamada “jornada móvel e variável”. Este tipo de jornada de trabalho exige a presença do funcionário no local de trabalho, mas só paga pelas horas efetivamente trabalhadas. O deputado Eudes Xavier (PT-CE), autor do requerimento de realização da audiência, afirmou que a jornada de trabalho móvel e variável praticada pelo McDonalds "faz com que, em determinadas situações, o trabalhador receba menos que o salário mínimo mensal, em clara ofensa à Constituição".
No mês passado, a rede de fast food assinou um acordo com o Sinthoresp (Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Bares, Lanchonetes e Restaurantes de São Paulo e Região), onde se comprometeu a estabelecer uma jornada de trabalho de 8 horas diárias para maiores de idade e de 6 horas para menores. O acordo também estabelece o piso salarial de R$ 769,26 para 44 horas semanais, e de R$ 629,40 para 36 horas. Porém, o acordo só beneficia os funcionários da área de atuação do Sinthoresp, estimados em 2 mil pessoas. A rede de fast food possui cerca de 50 mil funcionários no Brasil. Segundo a gerente de recursos humanos da Arcos Dourados (empresa que controla o McDonalds na América Latina), Ana Teresa Apolaro, existe um cronograma de negociações com sindicatos de outras regiões.
A assessoria de imprensa da Arcos Dourados informou que a empresa "tem plena convicção da legalidade das práticas laborais adotadas e que está em constante diálogo com os órgãos públicos e sindicatos para buscar melhorias contínuas em procedimentos". Afirma ainda que paga o piso salarial que cada sindicato estabelece, e que este é sempre igual ou maior ao salário mínimo, para o funcionário que cumpre a jornada integral. Por fim, a Arcos Dourados afirma que possui o compromisso de cumprir rigorosamente a legislação trabalhista e que segue o que é previsto e reconhecido por lei, além de manter canal aberto de diálogo com a dezena de sindicatos que representam seus funcionários em todo o país.
O slogan da rede é, " amo muito tudo isso". Cuidado com a propaganda enganosa desse simbolo do capitalismo norte americano.

MIGRAÇÃO DE RETORNO



A crise econômica mundial está fazendo com que a grande leva de latino-americanos, que deixou o continente na metade da década de 1990 rumo à Europa, tome o caminho de volta para casa. Em Roma muitos brasileiros resolveram retornar ao Brasil este ano por causa do agravamento da crise econômica que afeta mais gravemente os países do Mediterrâneo.


O Brasil sempre foi um país de imigração. Agora, além dos estrangeiros que não param de chegar, o país recebe de volta brasileiros e brasileiras que trabalhavam na Europa. A estabilidade econômica recente do Brasil com a moeda - o real forte tem contribuído para um processo de retorno de emigrados brasileiros e a redução do fluxo migratório observado até 2003.
A crise econômica mundial está fazendo com que a grande leva de latino-americanos, que deixou o continente na metade da década de 1990 rumo à Europa, tome o caminho de volta para casa. No Brasil, segundo dados do Ministério de Relações Exteriores, o fluxo migratório também se viu alterado no final da década de 90. De país que recebia a força de trabalho dos imigrantes, o Brasil passou a exportar mão-de-obra. Na década de 80, por causa da recessão econômica, o aumento da inflação e do desemprego e os baixos salários, cerca de 2,6 milhões de brasileiros emigraram do país entre os anos 80 e 90. Em anos recentes, porém, com o crescimento da economia brasileira, aliado às crises que afetam os polos de desenvolvimento mundial, o número de emigrantes caiu significativamente.
Hoje assistimos a uma nova inversão dos fluxos migratórios, caracterizada não apenas pelo fluxo dos brasileiros, mas também pela entrada de novos imigrantes que estão desembarcando mais uma vez no Brasil. Segundo dados do Ministério da Justiça, o número de estrangeiros em situação regular no Brasil aumentou 52,4% no último semestre e continua crescendo.
Embora existam diferenças entre os países, e também entre as gerações, sobre a percepção do futuro - hoje há visões mais otimistas na China ou no Brasil do que em países da União Européia e nos Estados Unidos. Porque de fato atravessamos um tempo de rápidas transformações, mas isso não constitui um elemento novo em tempos críticos. Foi assim ao longo de todo o século XX com duas guerras mundiais que marcaram a primeira metade do século passado. Depois os anos da Guerra Fria com a ameaça de uma guerra nuclear. E, mais recentemente, notamos a mesma sensação de desorientação ao vermos como os Estados Unidos e agora alguns países da União Européia mergulharam numa crise econômica como se o capitalismo liberal tivesse chegado ao seu limite.
Até o início deste século XXI, os países poderiam encontrar modelos de desenvolvimento importados do Ocidente, do Leste e até mesmo resultante da combinação dos dois. Hoje esses marcos sinalizadores desapareceram e os "pilotos" que guiariam nossos destinos também. Mas o Brasil que enfrenta a crise com resistência começa a receber de volta brasileiros e brasileiras que há mais de vinte anos imigraram para a Itália e outros países europeus.
Em Roma muitos brasileiros resolveram retornar ao Brasil por causa do agravamento da crise econômica que afeta mais gravemente os países do Mediterrâneo.
De acordo com o último relatório sobre migração de 2012 na Itália, 93 mil italianos a mais deixaram a Itália rumo a outros países em relação ao ano passado. Apesar das estatísticas serem aproximadas uma vez que não é possível registrar todos aqueles que continuam a emigrar, a maioria trata-se de jovens desempregados além de profissionais recém formados em busca de uma oportunidade de trabalho fora da Itália onde a taxa de desemprego para os jovens até 25 anos já ultrapassa trinta e cinco por cento.
Enquanto a crise financeira que paralisa o mundo desde 2008 tornou-se também uma crise de consumo onde os países mais desenvolvidos passaram a cobrar da sua população o preço pago pelos desastres promovidos pela especulação financeira., no Brasil a opção por uma política de crescimento com inclusão social mostrou-se acertada. E isso chama de volta muitos brasileiros e acaba por atrair novos imigrantes.
      

sábado, 16 de junho de 2012

Lúcio Flávio Pinto: Ritmo de exportação de minério de ferro de Carajás “é crime de lesa Pátria”

Por Luiz Carlos Azenha (blog viomundo)
Recentemente passei quase três semanas no Pará, viajando pelo estado. Notei, nas bancas de Belém, a presença sempre destacada do Jornal Pessoal, do repórter Lúcio Flávio Pinto, que também tem versão digital.
Dias depois, tive um breve encontro com o repórter na praça da República, onde fica o lindíssimo Teatro da Paz, herança dos tempos do ciclo da borracha.
Há, é importante frisar, um paralelo entre o ciclo da borracha e o ciclo do minério de ferro, que sai de Carajás, no sul do Pará, ao ritmo de 100 milhões de toneladas por ano: nenhum deles enriqueceu o estado.
Em nossa conversa, Lúcio Flávio confessou que sentiu um nó no peito toda vez que viu o trem carregado de minério partindo de Carajás em direção ao porto da Ponta da Madeira, no Maranhão, onde é embarcado para exportação.
Ele se sente tão indignado com o assunto que, além do dossiê, lançou um blog, no qual pergunta: a Vale é mesmo nossa?
O que mais deixa o repórter preocupado não é o fato de que a Vale engorda, enquanto o Pará emagrece. Nem o fato de que as ações preferenciais da empresa, aquelas que têm prioridade para receber dividendos, são controladas majoritariamente por norte-americanos. Ou seja, um novaiorquino dono de ações da Vale ganha muito mais com o minério de Carajás que o paraense que vive em Marabá ou Parauapebas.
O que deixa o jornalista indignado é o ritmo das exportações de minério de ferro de Carajás, nas palavras de Lúcio Flávio “o melhor do mundo, com o dobro de teor de hematita que o minério da Austrália”, outro importante fornecedor da China e do Japão — que compram 80% das exportações brasileiras.
Quando a exploração de Carajás começou, em 1984, a previsão é de que a mina duraria 400 anos. Ao ritmo de 100 milhões de toneladas por ano, que devem crescer para 230 milhões em 2016, a previsão agora é de que Carajás dure mais 80 anos, diz Lúcio Flávio. “Um crime de lesa Pátria”, “um crime que viola a soberania do país”, afirma.
O jornalista traça um paralelo com a exportação de manganês da Serra do Navio, no Amapá. Durante 50 anos, os Estados Unidos importaram 1 milhão de toneladas anuais do Brasil. E até hoje guardam estoques estratégicos do minério brasileiro, de altíssima qualidade, que misturam ao minério de baixa qualidade para garantir a siderurgia local, dependente em 90% das importações.
A mina do Amapá se esgotou em 2002. Qual foi o legado principal para o estado? Quando se descobriu que o manganês fino tinha uso industrial, foi implantada no Amapá uma usina de pelotização, que usou grandes quantidades de arsênio no processo. O arsênio hoje contamina o porto de Santana em doses muito superiores às recomendadas pela saúde pública.
Para Lúcio Flávio, os chineses estocam o minério de ferro brasileiro de forma estratégica, além de transformá-lo em bens de imenso valor agregado.
No dossiê, pergunta: “Temos algum controle sobre o processo de formação de preços? Quem estabelece a escala da produção, que está duplicando, para incríveis 230 milhões de toneladas, em 2015, a atual produção de Carajás? Atraídos pelo canto da sereia dos preços altos, estamos renunciando a uma ferramenta poderosa de futuro e, com ela, à possibilidade de agregar mais valor ao processo produtivo?”.
“A Vale é boa para si e os seus grandes clientes. Mas não — ao menos na mesma medida — para o Brasil”, conclui.
                                      Fonte: google imagem de Carajás

Índice de felicidade do brasileiro

Para medir o desenvolvimento social, o indicador mais utilizado hoje em dia é o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), mas para o ambiente não há um correspondente. Um dos objetivos da Rio+20 é trazer um caminho para a criação deste índice que tem sido popularmente conhecido como índice de felicidade ou índice de Felicidade Bruta (FIB).
O FIB já existe no Butão, um pequeno reino incrustado nas cordilheiras do Himalaia. Lá, o contentamento da população é mais importante que o desempenho da produção industrial. O índice pensado pela Fundação Getulio Vargas, no entanto, não será tão radical. "O PIB será um dos componentes do cálculo", esclarece Fábio Gallo, professor da FGV-SP que, ao lado de Wesley Mendes, encabeça o desenvolvimento do estudo.
O PIB é considerado por diversos especialistas um índice incompleto. Dados como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ou o nível de segurança das cidades não são contabilizados. Portanto, elencar a grandeza das nações pelos bilhões acumulados com produção industrial e comercial, por exemplo, é, para esses especialistas, uma distorção da realidade.
"Elaborar o índice que queremos é algo complexo. São muitos dados subjetivos que variam de Estado para Estado", explica Gallo. Num país do tamanho do Brasil, com regiões diferentes entre si, a tarefa fica ainda mais complicada. "Tudo será sob medida para cada uma das regiões. Dessa forma, chegaremos a bons resultados, que reflitam a situação real do País", completa Mendes.
Os professores salientam que o PIB falha ao computar os custos ambientais e, ao mesmo tempo, inclui em seu cálculo formas de crescimento econômico prejudiciais ao bem-estar da população. Gastos com crime, atendimento médico, divórcio e até desastres naturais como tsunamis colaboram para elevar o PIB.
O primeiro passo do desenvolvimento da metodologia do FIB brasileiro já foi dado pela FGV, e mostra que a riqueza econômica não é o principal fator de felicidade da população. Um questionário com jovens adultos de São Paulo e de Santa Maria, pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul, mostrou que o índice de satisfação dos jovens gaúchos é 22,5% maior que o dos paulistanos. Entre os 11 aspectos de vida estudados, os mais relevantes para a percepção de satisfação foram vida social, situação financeira e atividades ao ar livre.
Ainda de acordo com essa primeira etapa da pesquisa, a principal preocupação dos paulistanos é com segurança pessoal, enquanto a principal satisfação é com perspectivas de crescimento acadêmico. Entre os gaúchos, a preocupação é com as expectativas de conseguir um bom trabalho. A satisfação é com a boa vida social.
Instituto de Finanças
Com a melhoria da renda média do brasileiro e a estabilização econômica, temas como os investimentos e a qualidade de vida ganham espaço. É de olho nessa tendência que a Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) criou o Instituto de Finanças. A elaboração da metodologia do índice que medirá a felicidade do brasileiro é uma das iniciativas do novo Instituto.
O instituto será coordenado por João Carlos Douat, doutor em administração de empresas. Sob sua coordenação estarão 11 núcleos e cada um será administrado por um ou dois professores da universidade. No total, são 37 docentes envolvidos com a criação do Instituto de Finanças e pouco mais de 3 mil alunos que já estão matriculados terão acesso às novidades.
O índice de Felicidade Interna Bruta (FIB), por exemplo, será produzido pelo núcleo de Estudos de Felicidade e Comportamento Financeiro, que terá gestão de Fábio Gallo e Wesley Mendes. No LabFin, o laboratório de finanças, coordenado pelo professor Rafael Schiozer, os alunos farão simulações de investimentos. "Vamos simular a elaboração de carteiras de renda variável e fixa", diz Schiozer. "Queremos formar bons gestores de fundos. Isso é algo inédito no Brasil", reforça.

sábado, 2 de junho de 2012

Da Carta Maior. A toga, a língua e o caçador de blogs


Escudado na proteção republicana da toga, o ministro Gilmar Mendes desnudou uma controversa agenda política pessoal na última semana de maio. Onipresente na obsequiosa passarela da mídia amiga, lacrou seu caminho na 6ª feira declarando-se um caçador de blogs adversários de suas ideias e das ideias de seus amigos. Em preocupante equiparação entre a autoridade da toga e a arbitrariedade da língua, Gilmar decretou serem inimigos das instituições republicanas todos aqueles que contestam os seus malabarismos discursivos, a adequar denúncias a cada 24 horas, num exercício de convencimento à falta de testemunhas e fatos que as comprovem.
A fragilidade desse discurso impele-o agora ao papel de censor a exigir da Procuradoria Geral da República, e do ministro Mantega, que sufoque blogs adversários asfixiando-os com o corte da publicidade oficial. Sobre veículos que incluem entre suas fontes e 'colaboradores informais', notórios acusados de integrar quadrilhas do crime organizado, o ministro nada observa em relação à presença da publicidade oficial. Cabe ao governo Dilma dar uma resposta ao autonomeado censor da República.
O ataque da língua togada contra a imprensa crítica não é aleatório. O dispositivo midiático conservador vive em andrajos de credibilidade e pautas. A semana final de maio estava marcada para ser um desses picos de desamparo, na despedida humilhante de seu herói decaído. E de fato o foi: em depoimento no Conselho de Ética do Senado, na 3ª feira, o ex-líder dos demos na Casa, Demóstenes Torres, deixaria gravado no bronze dos falsos savonarolas a lapidar confissão de que um chefe de quadrilha pagava as contas, miúdas, observaria, de seu celular. E ele, o centurião da moralidade, a direita linha dura assim cortejada pela língua togada e pelo aparato conservador --quem sabe até para vôos maiores em 2014--, não viu nenhum tropeço ético nesse pequeno mimo que elucida todo um perfil.
O fecho de carreira do tribuno goiano contaminaria as manchetes que ele tantas vezes ancorou à direita não fosse a providencial intervenção da língua amiga do ministro do STF, Gilmar Mendes. Na mesma 3ª feira desde as primeiras horas da manhã, lá estava ela a falar pelos cotovelos. Diuturnamente, contemplou a orfandade da mídia amiga naquele dia cinzento. A cada qual ofereceu uma frase brinde para erguer a moral da tropa e justificar a manchete com o carimbo 'exclusivo' no alto da página. Não se poupou. O magistrado, não raro em destemperados decibéis, esfregou na opinião pública recibos e documentos que comprovariam o pagamento, com recursos próprios --'tenho-os para umas três voltas ao mundo'-- de seu giro europeu, em abril de 2011, onde se encontraria com o herói decaído da linha dura, Demóstenes Torres.
Sua língua foi peremptória em alguns momentos, na mais pura tradição liberal que o distingue: 'Vamos parar com essas suspeitas sobre viagens", determinou. Para depois admitir em habilidosa antecipação: por duas vezes utilizou carona aérea do amigo Demóstenes; por duas vezes voou sob os auspícios do amigo que não possui veículo aéreo próprio; do amigo que não paga nem as contas de celular. Contas miúdas, diga-se, a revelar um vínculo orgânico com a ubíqua carteira gorda de acusados de integrar o condomínio criminoso goiano.
Gilmar estava determinado a servir de redenção ao dispositivo midiático demotucano num dia tão aziago. Não desapontou amigos, ainda que tenha escandalizado parte do país. Ofensivo, execrou blogs e sites críticos -- esses sim, bandidos e gangsters-- que arguiram e ainda arguem as fronteiras da identidade de valores que aproximou o magistrado do senador decaído.
Fez mais ainda: acusou Lula de ser a central de boatos contra ele para 'melar o julgamento do mensalão' --como se o ex-presidente Lula não pudesse, não devesse ter opinião sobre fatos relevantes da vida política nacional --prerrogativa que outras togas mais serenas não contestam e legitimam. Ao jornal O Globo, na linha da frase à la carte, facilitou a manchete pronta para dissolver a terça-feira de cinzas do conservadorismo: 'O Brasil não é a Venezuela onde Chávez manda prender juiz'. O diário retribuiu a gentileza em manchete garrafal de duas linhas no alto da página. Um contrafogo sob medida à humilhante baixa no Senado. Incansável, a língua foi provendo xistes e chutes a emissários de redações sedentas, mas cometeu alguns deslizes.
Esqueceu que um pilar de sua versão sobre a famosa conversa com Lula --origem de toda celeuma que descambou em ataque à liberdade de imprensa-- residia nos pequenos detalhes que emprestam veracidade ao bom contador; um deles, o cenário: a cozinha. Teria sido naquele recinto profano do escritório do ex-ministro Nelson Jobim, abrigado de qualquer solenidade e sem a presença do anfitrião, que ocorrera o assédio moral inesperado de um Lula chantageador contra um Gilmar irretocável.
Quadro perfeito. Exceto pelo fato de não se sustentar nem mesmo no matraquear do interessado. Sim, o mesmo magistrado suprimiu o precioso cenário despido de testemunhas na versão apresentada ao jornal Valor do dia 30-05 quando afirmou literalmente: 'Jobim esteve presente durante todo o tempo'. Como? E a cozinha? E a privacidade a dois que lubrificou o assédio de um Lula irreconhecível?
Evaporou-se: Jobim estava presente o tempo todo, afirmou o narrador em contradição ostensiva. Mas por um bom motivo: desferir no ex-ministro de FHC e ex- presidente do STF uma punhalada em retribuição ao desmentido categórico do anfitrião para seu relato original do episódio à indefectível VEJA. No mesmo Valor, Gilmar insinuaria contra Jobim uma suspeita de cumplicidade com Lula por ter lançado na mesa o nome de um desafeto: Paulo Lacerda. Ex-dirigente da ABIN, Lacerda foi demitido em 2008 depois que Gilmar denunciou suposta escuta da PF, nunca comprovada, em seu escritório. Só na 5ª feira o entendimento da investida contra Jobim ficaria completo: Serra, o candidato predileto do conservadorismo, amigo de Gilmar e de outros da mesma cepa, prestou-se à colaborar com Veja; desinteressadamente, a exemplo do que tantas vezes o fez também o colaborador Dadá, aparaponga de aluguel do esquema Cachoeira. Serra incitou o amigo Jobim a falar com a revista sobre o encontro.
Surpreendido pela trama Jobim tirou a escada de VEJA e deu troco duplo: desmentiu Gilmar no Estadão e confirmou a Monica Bergamo, da Folha, o que tantos sabem: Serra não falha; sua biografia de bastidores está, esteve e estará sempre entrelaçada a golpes e denúncias que contemplem a regressividade udenista da qual VEJA constitui a corneta mais atuante e Gilmar o novo expoente da linha de frente lacerdista.
Diante do maratonismo verbal não sobraria fôlego aos jornais e jornalistas amigos para conceder ao leitor um pequeno espaço de reflexão sobre a momentosa semana final de maio, pausa todavia ainda mais necessária à medida em que versões assentam e dúvidas emergem em contornos mais nítidos. Ademais da evanescente cozinha do escritório do ex-ministro Nelson Jobim, outros pontos de dissipação merecem retrospecto. Por exemplo:
a) a reportagem publicada por Carta Maior no dia 29-04 " Cachoeira arruma avião para Demóstenes e 'Gilmar' --com aspas por conta da identificação incompleta do ilustre viajante e um dos motivos da fluvial verborragia togada, não tratava de pagamento de vôo a Berlim pelo esquema Demóstenes/Cachoeira;
b) o texto, conciso e claro baseado em escutas públicas da PF teve como foco uma 'carona aérea' no trecho SP-Brasília, solicitada ao esquema Cachoeira para o dia 25-04 de 2011;
c) as tratativas telefônicas da quadrilha Cachoeira apontam que os passageiros da carona viriam da Alemanha e seriam, respectivamente, Demóstenes e 'Gilmar' ;
d) a data da chegada a São Paulo é a mesma do retorno informado pelo próprio Gilmar Mendes em seu rally jornalístico;
e) o horário de chegada do seu vôo originário da Alemanha guarda proximidade com aquele informado à quadrilha. Essas as coincidências notáveis. A partir daí os fatos e comprovantes apresentados por Gilmar Mendes desmentem que ele tenha utilizado a dita carona solicitada à quadrilha, fato que Carta Maior noticiou imediatamente após os esclarecimentos do magistrado. O desencontro entre essas evidências e as providencias tomadas pela quadrilha Cachoeira, todavia, autoriza uma indagação que não se dissolve no aluvião verborrágico da semana, a saber: quantos Gilmares havia em Berlim com Demóstenes Torres? E, mais que isso: quem seria o 'Gilmar' cuja inclusão na carona, aparentemente desativada, não causou qualquer surpresa a Cachoeira, que nas escutas reage à menção do nome e da presença como algo se não habitual, perfeitamente compatível com a extensão de seus tentáculos e zonas de influência?
Fiel aos compromissos Carta Maior cumpre a obrigação de manter em pauta algumas perguntas ainda sem resposta satisfatória:
Quantos gilmares havia em Berlim?
Quantos gilmares havia no escritório de Jobim (um na cozinha e um na sala)?
E, ainda mais urgente, quantas ameaças de fuzilamento da liberdade de expressão serão necessárias para que os partidos democráticos e o governo tomem a iniciativa de desautorizá-lo?
Não só em palavras, mas sobretudo na impostergável democratização da publicidade oficial, antes que novos e velhos caçadores de jornalistas consigam transformá-la em mais um torniquete da pluralidade de opinião.

Economia da Espanha afunda, responsáveis recebem indenizações milionárias. (Esquerda.net)

Na quarta feira, a bolsa de Madrid continuou a afundar caindo 2,58%, enquanto a taxa de juro dos títulos da dívida soberana chegou aos 6,703%, muito próxima dos valores que levaram aos pedidos de resgate da Grécia, da Irlanda e de Portugal. A taxa de risco de Espanha, diferencial entre a taxa da dívida de Espanha e a da Alemanha, chegou a 540 pontos, o mais elevado da história.
Na terça feira, o governador do Banco de Espanha Miguel Ángel Fernández Ordóñez (MAFO), destacado quadro do PSOE, pediu a antecipação do fim do seu mandato de 12 de julho para 10 de junho, depois do PP se ter oposto à sua ida ao Congresso de Madrid, que tinha sido proposta por ele, para dar explicações sobre o Bankia e a crise bancária.
Também na terça feira, foi noticiado pelo Financial Times que o Banco Central Europeu (BCE) recusara o plano do governo PP para o Bankia, de injeção de 19 bilhões de euros para salvar a entidade, através de novos títulos de dívida pública, que podiam ser usados como garantia em operações interbancárias ou no BCE.
De acordo com o Financial Times, o BCE teria respondido ao governo de Rajoy que é necessária uma injeção de capital adicional no Bankia, mas que o seu plano está próximo da violação da norma da UE sobre o financiamento monetário dos Estados. O jornal conclui que “a recusa do BCE torna as coisas difíceis à insistência de Madrid de que a única solução para esta crise que está a fazer aumentar os seus custos de financiamento é que o BCE se converta num prestamista de último recurso para os Governos”.
Na quarta feira, o governo de Espanha disse que não apresentou nenhum plano e o BCE declarou que não analisou nenhum plano e não tem posição sobre o plano do governo de Espanha para recapitalizar um grande banco. De acordo com o site do jornal “El Pais” desta quarta feira, “a comissão europeia defende uma união bancária e o uso direto do fundo de resgate para salvar a banca” e “dará mais um ano a Espanha para cumprir o déficit previsto em troca de mais sacrifícios”.
Entretanto, o governo e o PP opõem-se tenazmente e tentam tudo por tudo para impedir o debate do caso Bankia no Congresso de Madrid, perante o silêncio do PSOE e do seu secretário-geral Alfredo Rubalcaba. A Izquierda Unida propôs a criação de uma comissão de inquérito ao escândalo Bankia, mas o PP opõe-se. Os maiores responsáveis do caso são destacados quadros do partido governamental.
Enquanto governo e UE parecem preparar novas medidas de austeridade, são conhecidos vários casos de indenizações milionárias a diretores de entidades resgatadas pelo governo e, portanto, com dinheiros públicos. Segundo o El Pais, “são responsáveis diretos, com a conivência das camarilhas políticas regionais, das maiores falências da história do sistema financeiro espanhol. Financiaram projetos urbanísticos especulativos, obras públicas ruinosas como aeroportos vazios, alimentaram esquemas de corrupção e até chegaram a falsear as contas”.
O jornal cita diversos casos, entre os quais: Aurélio Izquierda, diretor-geral do Banco de Valência, filial da Bancaja, que recebeu 14 milhões de euros em pensões e indenização de pré-aposentadoria. Miguel Blesa, ex-presidente da Caja Madrid, que recebeu uma indenização de 2,8 milhões de euros, Rodrigo Rato 1,2 milhões de euros, José Luis Pego, diretor da Novacaixagalicia durante nove meses, 18,5 milhões.
A economia de Espanha afunda-se com uma taxa de desemprego superior a 25% e com o número de desempregados a superar os 5 milhões de pessoas. O austeritarismo imposto pela UE e pelo FMI não resolve e aprofunda a crise bancária, provocada pelo estouro da bolha da especulação imobiliária. A dívida de Espanha atinge uma situação próxima da que levou aos pedidos de resgate de Grécia, Irlanda e Portugal. Porém, o país é muito grande para ser resgatado.