domingo, 24 de junho de 2012

Começa na próxima quarta-feira, em Mendoza, Argentina, a Cúpula do Mercosul. No encontro dos chefes de Estado, no fim da semana, estava prevista a passagem da Presidência ‘pro tempore’ do bloco à República do Paraguai, leia-se, ao presidente democraticamente eleito, Fernando Lugo. Que atitude tomarão agora Dilma Rousseff, Pepe Mujica e Cristina Kirchner diante do golpe da última sexta-feira? Recorde-se que o mesmo Congresso que derrubou Lugo bloqueia há mais de um ano o ingresso da Venezuela no Mercosul,  já aprovado pelos demais parceiros. O argumento soa agora irônico: 'o governo Chavez não é democrático', alegam os senadores paraguaios que tiraram Lugo da presidência em menos de 30 hs. Em entrevista à TV Pública de seu país, sábado (23/06), Cristina Kirchner foi enfática quanto a posição de seu governo “Argentina no va a convalidar el golpe de Estado en Paraguay”. Com exemplar coerência, a Casa Rosada decidiu na tarde de sábado retirar seu embaixador em Assunção, assumindo a liderança na retaliação regional à derrubada de Lugo. Horas depois, já na noite de sábado, o Brasil adotaria atitude parecida, seguido pelo Uruguai: ambos convocaram seus representantes 'para consultas'. Brasília está sendo cortejada pelos novos ocupantes do Palácio de los Lopez, que prometem resolver a cidadania de 400 mil brasiguaios.
A destituição de Lugo representa um ponto fora da curva, ou o golpismo ainda lateja na América Latina?
Algumas considerações.
O caso paraguaio remete ao golpe de Honduras, que expulsou do poder o presidente Manuel Zelaya em junho de 2009, e logo em seguida forçou eleições fraudulentas, já que se realizaram sob um clima de terror e com proscrições, que levaram ao poder a Porfirio Lobo, em novembro desse mesmo ano.
Os Estados Unidos aprovaram o golpe contra Zelaya, a quem viam com receio por estar aliado a Hugo Chávez, respaldaram o processo “eleitoral” e depois, como era previsível, reconheceram a legalidade do mandato de Lobo, que não foi validada pela maioria dos governos americanos, com o Brasil liderando essa frente.
Na carona deste mandatário marionete do Paraguai, Washington recupera o seu domínio pleno no estratégico “umbigo” da América do Sul. Possivelmente o Departamento de Estado Norte Americano já não precisará forçar mais relatórios falsos sobre a suposta presença de “células adormecidas” da Al Qaeda na Tríplice Fronteira Paraguai, Brasil e Argentina, para justificar a presença de tropas próprias.
O fim da efêmera experiência de Lugo restitui ao Paraguai o seu status de peça chave incondicional dos Estados Unidos, que valoriza geopoliticamente as fronteiras do país com o Brasil, a Argentina e, sobretudo, o extenso limite paraguaio com a Bolívia, país onde Washington sempre aspira voltar a influenciar, especialmente depois que os agentes da DEA foram expulsos pelo governo de Evo Morales.
Pela queda de Lugo, agradecem os que apostam num autoritarismo “constitucionalizado” na A.L., de caráter antipopular e pró-ALCA. Agradecem os torturadores que não terão seus crimes revelados, agradecem os que querem resolver as questões dos movimentos sociais pela repressão. Agradecem as grandes corporações multinacionais, produtoras de transgênicos, como a Monsanto e Syngenta com apoio de uma oligarquia agrária. Agradece, também, a guerrilha paraguaia, que agora terá chance de sair do isolamento a que tinha se submetido, ao desenvolver a luta armada contra um governo legítimo, consagrado pelas urnas.

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