quinta-feira, 20 de junho de 2013

A grande mídia está colhendo o que plantou?

Desnecessário lembrar que a grande mídia ainda exerce, na prática, o controle do acesso ao debate público, vale dizer, das vozes que se expressam e são ouvidas, vozes de partidos de direita ou de uma elite preconceituosa.
Além disso, a cultura política que vem sendo construída e consolidada no Brasil, pelo menos desde que a televisão se transformou em “mídia de massa” hegemônica, tem sido de desqualificação permanente da política e dos políticos. E é no contexto dessa cultura política que as novas gerações estão sendo formadas – mesmo não se utilizando diretamente da velha mídia.
A população é sujeita à, respectivamente, novela das seis, jornal local, novela das oito e, por fim, a algum reality show ou programa de comédia tendenciosa, isso temperada por muita violência. Os telejornais, jornais e determinadas revistas condicionam as notícias como querem, as pessoas ficam absorvidas com uma realidade que não diz respeito ao seu dia-a-dia.
Boa parte da programação televisiva é de um grau de mediocridade abominável, agradando aos mais baixos padrões de moralidade e de inteligência. Tudo em nome da audiência e de faturamento ascendentes. Os telespectadores que se danem e consumam o lixo cultural que está sendo oferecido diariamente. Violência, consumismo, perda do senso crítico e ético.
Para a grande mídia e seus controladores e realizadores, que são os grandes conglomerados capitalistas, a democracia é sempre um risco. Assim, o medo de quem tem bilhões de dólares em paraísos fiscais ou milhões de hectares, imóveis e empresas deve ser transferido para a classe média, que tem alguns imóveis, uma fazenda, uma indústria média etc. Nesses últimos 20 anos, essa mídia fez esse serviço sujo. Transferir o medo dos privilegiados e bilionários para a classe média, alimentando a repetição da trágica história golpista de 64 e do período pós-segunda guerra. E teve certo sucesso. Tem-se hoje uma parte da classe média imbecilizada e amedrontada com os avanços da democracia brasileira.
Nas últimas duas décadas, a revista Veja manteve um ataque constante à inteligência da classe média brasileira. Nos primeiros anos de democracia, esse ataque não foi tão intenso, visto que o governo de FHC representava a presença de um aliado civil na presidência da República e havia também, ainda hoje, o controle do governo paulista com o PSDB, que mantém a compra desse panfleto para as escolas públicas.
O mote ideológico, que se tornou redundante na revista Veja, Globo, Band, Folha, Estadão e outros, é o do pensamento binário que sustentou o golpe militar de 64 e também todos os golpes nos últimos 50 anos na América Latina, como bem mostra o jornalista australiano John Pilger, em Guerra contra a Democracia. Dos anos 90 para cá, a mídia se tornou a porta bandeira da imbecilização da classe média, aterrorizando os leitores com o fantasma do comunismo, do petismo, etc.
Millôr Fernandes em 2006: “A imprensa brasileira sempre foi canalha. Eu acredito que se a imprensa brasileira fosse um pouco melhor poderia ter uma influência realmente maravilhosa sobre o País. Acho que uma das grandes culpadas das condições do País, mais do que as forças que o dominam politicamente, é nossa imprensa. Repito, apesar de toda a evolução, nossa imprensa é lamentavelmente ruim. E não quero falar da televisão, que já nasceu pusilânime”.
Assim, toda a crítica à selvageria do capitalismo, toda violência perpetrada por leis e manobras jurídicas, toda a violência policial ou midiática passou a ser interpretada como uma crítica comunista, petista, petralha etc. Qualquer pessoa que questione a desigualdade, a desonestidade e as práticas violentas do cruel sistema tornou-se necessariamente um “norte-coreano” infiltrado na sociedade brasileira.
JOSEPH PULITZER ( 1847 - 1911 ) "Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma".
Prof. Andrew Oitke, (catedrático de Antropologia em Harvard) "A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."

Independentemente das inúmeras e verdadeiras razões que justificam a expressão democrática de uma insatisfação generalizada por parte de parcela importante da população brasileira, não se pode ignorar o papel da grande mídia na construção dessa cultura política que desqualifica sistematicamente a política e os políticos. E mais importante: não se pode ignorar os riscos potenciais para o regime democrático da prevalência dessa cultura política. È sempre bom lembrar que existem várias versões de um mesmo fato ou acontecimento, e a grande mídia tem sistematicamente dado uma versão tendenciosa e desfocada da realidade, versão essa que pode ter sido o estopim desses gigantescos movimentos.

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